Tarde no paraíso
Relatório do dia 30.12.04
Você já teve a sensação de um momento único na vida? São instantes raros, algo semelhante a uma embriaguez emocional, onde você não perde a noção do tempo nem do espaço, mas onde fica tudo tão nitidamente gravado que nem que se viva cem anos você esquecerá, exceto se tiver Alzheimer, aí...
Quinta-feira à tarde foi um destes dias. Começou no exato instante em que se colocou o almoço na mesa da cozinha daquela casa de praia, o lugar mais próximo do meu ideal de um ilha deserta. Nada de telefone, televisão, campainha, avião ou fax-modem. Estava cercada das pessoas que mais amo no mundo (meus amigos em Recife vão me entender): Ado, Kati, Doda, os pais delas, o almoço era carne-de-sol, havia abacaxi e o rádio começou a tocar "La vie en rose". Seguiu-se o melhor café de minha vida, vindo de Minas Gerais (Mr Café,de Guaxupé, variedade árabe), uma rede, o livro de memórias do JN e a melhor seleção de músicas que jamais uma rádio tocou. "Roberta", "F...comme femme", Chico, Lulu Santos, acho que qualquer coisa que tocasse seria maravilhosa mesmo. Fim de tarde com caminhada na praia, bandos de pássaros voando ao pôr do sol, peixinhos nas piscinas natuais. Uma despedida perfeita de um dia perfeito de sol na medida exata, risos e gargalhadas. Estou aguardando o próximo nirvana.

Essa tocou, claro, porque a vida era perfeita naquele instante, e nada refletiria melhor aquele dia.

Casa no campo
(Zé Rodrix e Tavito)

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes

No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais