sábado, março 26, 2005

Pra dar risada

Ideal para professores de inglês, como as agentes Vicky e Fernanda, um abecedário animado em inglês.

http://www.bemboszoo.com/

sexta-feira, março 25, 2005

Filmes

No último domingo vimos um filme que rendeu ótimas gargalhadas. "A soma de todos os medos" não é uma comédia, mas uma coincidência estranha: o casal do filme é formado por uma médica e um historiador(!). A arte imita a arte. Só espero que não detonem uma bomba por aqui também...

A locadora daqui está vendendo as fitas em VHS a cinco reais, e em bom estado. Meu presente de Páscoa foi "28 dias". Entre a Sandra e o Viggo, fico com os dois. E Ado encontrou "G. I Jane" (Até o limite da Honra). Jamais vou entender por que esse filme não decolou. É minha inspiração. E por coincidência o Viggo também está lá!

O melhor dos últimos tempos foi o de hoje. Há um ano que eu tentava assistir "Garotas do calendário". E valeu a espera! Os extras, excepcionalmente, têm legendas. Sem falar nos girasssóis...
Mais 24 horas

Após uma noite razoável de sono, voltei para mais 24 horas no mesmo hospital. Foram 27 atendimentos pelo SUS, e mais as consultas pelos planos de saúde. Sem falar que os pacientes internos não foram vistos pela diarista. Simplesmente ela não foi. Claro que caiu tudo nas minhas costas, e não vão pagar um extra por isso. Particularmente, uma paciente que estava de alta e a família não queria levá-la embora. A alta é uma decisão do médico que acompanha o paciente, no caso, a diarista. Foi mais de uma hora para fazê-los entender que a paciente só ficaria o tempo necessário para estabilizar o quadro, não podia ficar até estar completamente curada. O risco de uma infecção hospitalar suplantava o benefício que ela teria permanecendo lá. Uma paciente que iria continuar apenas fazendo soro caseiro e com uma dieta reforçada, sem vômitos, febre, não teria necessidade de permanecer. Fora internada devido a desidratação por diarréia e já estava lá há uma semana, e só permaneceu tanto tempo porque é idosa. A anemia leve que tem será tratada por meses. Será que eles esperavam que ela ficasse internada todo esse tempo? Talvez quisessem se livrar de um problema. Acabei elaborando até um resumo de alta para levarem para o médico do posto. Um dos netos pediu e é um direito de todo paciente receber um resumo de alta. É só solicitar. O médico tem obrigação de dar e não pode cobrar por isso. Copiei até os resultados dos exames.
O rapaz do rosto inchado trouxe os exames, que confirmaram uma síndrome nefrótica. O inchaço diminuiu só em parar de comer sal. Vai voltar semana que vem para acompanhamento. Duas mulheres chegaram quase na mesma hora com torcicolo. Uma moça cortou a mão lavando um copo. Uma menina cortou o pé no acampamento da Semana Santa.
Vieram os habituais com febre, dor, tosse. Vieram os pacientes do cirurgião que faltou ao ambulatório e precisavam de revisão após as cirurgias. O paciente que havia retirado o aparelho de fixação externa do fêmur voltou para ser internado com osteomielite. foi o único internamento do dia.
Houve vários casos de pacientes internos precisando de analgésicos, antieméticos e tranquilizantes não prescritos pelos médicos que os acompanham. Algum dia alguém vai entender que o plantonista está ali para ver apenas as intercorrências do plantão e não para fazer o serviço do médico que acompanha o paciente.
O melhor momento do dia foi um senhor com dor abdominal. É um alcoólico anônimo e ficamos conversando. "O A.A. salvou minha vida", me disse. Contou como agora está levando o irmão para as reuniões. Está sóbrio há dois anos e reconstruiu a vida familiar e profissional.
O momento irreal foi um paciente com a história de ser médico sem ter estudado, já nasceu médico. Voltou semana passada de Roma onde visitou o Papa João Paulo II e João de Deus (um político daqui). É presidente do estados do exército do Brasil. Aprendeu a ler sozinho (a letra é linda, mas ele não escreve uma palavra, são agrupamentos de símbolos). Tem uma doença que é segredo porque tem a ver com vidas passadas. Até ele falar do papa eu podia acreditar, depois ficou difícil, né?
Lembrei da paciente no hospital psiquiátrico que estava internada porque o marido tinha atirado no presidente Fernando Henrique e o filho dela havia salvado-o porque dirigia a ambulância da cidade. Na ficha dessa paciente constava que havia chegado em tal surto megalomaníaco que estava aos gritos na admissão dizendo que era amiga de Lampião e que se não a soltassem ele vinha derrubar o hospital. o interessante é que essas pessoas não mentem. Elas acreditam no que dizem. É tudo real para eles. Não podemos dizer que aquilo não existe.
Concordei com tudo que o "médico e amigo do papa" me disse. Como a queixa não tinha a ver com o quadro psiquiátrico, prescrevi um sintomático e o liberei. Infelizmente ele estava sozinho, e não estava em surto. A lei proíbe que qualquer paciente seja detido sem sua permissão, exceto se não estiver em seu juízo normal ou for portador de uma doença que ameace a população. Mesmo um paciente psiquiátrico só pode ser detido por 24 horas, depois desse prazo deve ser novamente avaliado e por mais de um médico. Isso impede aqueles internamentos arbitrários do passado, onde muitos foram taxados de loucos enquanto a família se apropriava do dinheiro.
Mais 24 horas

Após uma noite razoável de sono, voltei para mais 24 horas no mesmo hospital. Foram 27 atendimentos pelo SUS, e mais as consultas pelos planos de saúde. Sem falar que os pacientes internos não foram vistos pela diarista. Simplesmente ela não foi. Claro que caiu tudo nas minhas costas, e não vão pagar um extra por isso. Particularmente, uma paciente que estava de alta e a família não queria levá-la embora. A alta é uma decisão do médico que acompanha o paciente, no caso, a diarista. Foi mais de uma hora para fazê-los entender que a paciente só ficaria o tempo necessário para estabilizar o quadro, não podia ficar até estar completamente curada. O risco de uma infecção hospitalar suplantava o benefício que ela teria permanecendo lá. Uma paciente que iria continuar apenas fazendo soro caseiro e com uma dieta reforçada, sem vômitos, febre, não teria necessidade de permanecer. Fora internada devido a desidratação por diarréia e já estava lá há uma semana, e só permaneceu tanto tempo porque é idosa. A anemia leve que tem será tratada por meses. Será que eles esperavam que ela ficasse internada todo esse tempo? Talvez quisessem se livrar de um problema. Acabei elaborando até um resumo de alta para levarem para o médico do posto. Um dos netos pediu e é um direito de todo paciente receber um resumo de alta. É só solicitar. O médico tem obrigação de dar e não pode cobrar por isso. Copiei até os resultados dos exames.
O rapaz do rosto inchado trouxe os exames, que confirmaram uma síndrome nefrótica. O inchaço diminuiu só em parar de comer sal. Vai voltar semana que vem para acompanhamento. Duas mulheres chegaram quase na mesma hora com torcicolo. Uma moça cortou a mão lavando um copo. Uma menina cortou o pé no acampamento da Semana Santa.
Vieram os habituais com febre, dor, tosse. Vieram os pacientes do cirurgião que faltou ao ambulatório e precisavam de revisão após as cirurgias. O paciente que havia retirado o aparelho de fixação externa do fêmur voltou para ser internado com osteomielite. foi o único internamento do dia.
Houve vários casos de pacientes internos precisando de analgésicos, antieméticos e tranquilizantes não prescritos pelos médicos que os acompanham. Algum dia alguém vai entender que o plantonista está ali para ver apenas as intercorrências do plantão e não para fazer o serviço do médico que acompanha o paciente.
O melhor momento do dia foi um senhor com dor abdominal. É um alcoólico anônimo e ficamos conversando. "O A.A. salvou minha vida", me disse. Contou como agora está levando o irmão para as reuniões. Está sóbrio há dois anos e reconstruiu a vida familiar e profissional.
O momento irreal foi um paciente com a história de ser médico sem ter estudado, já nasceu médico. Voltou semana passada de Roma onde visitou o Papa João Paulo II e João de Deus (um político daqui). É presidente do estados do exército do Brasil. Aprendeu a ler sozinho (a letra é linda, mas ele não escreve uma palavra, são agrupamentos de símbolos). Tem uma doença que é segredo porque tem a ver com vidas passadas. Até ele falar do papa eu podia acreditar, depois ficou difícil, né?
Lembrei da paciente no hospital psiquiátrico que estava internada porque o marido tinha atirado no presidente Fernando Henrique e o filho dela havia salvado-o porque dirigia a ambulância da cidade. Na ficha dessa paciente constava que havia chegado em tal surto megalomaníaco que estava aos gritos na admissão dizendo que era amiga de Lampião e que se não a soltassem ele vinha derrubar o hospital. o interessante é que essas pessoas não mentem. Elas acreditam no que dizem. É tudo real para eles. Não podemos dizer que aquilo não existe.
Concordei com tudo que o "médico e amigo do papa" me disse. Como a queixa não tinha a ver com o quadro psiquiátrico, prescrevi um sintomático e o liberei. Infelizmente ele estava sozinho, e não estava em surto. A lei proíbe que qualquer paciente seja detido sem sua permissão, exceto se não estiver em seu juízo normal ou for portador de uma doença que ameace a população. Mesmo um paciente psiquiátrico só pode ser detido por 24 horas, depois desse prazo deve ser novamente avaliado e por mais de um médico. Isso impede aqueles internamentos arbitrários do passado, onde muitos foram taxados de loucos enquanto a família se apropriava do dinheiro.

quinta-feira, março 24, 2005

12 horas de plantão

Meu colega pediu,e e aceitei, trocar o plantão desta semana para que ele pudesse viajar com a família. Como eu, pobre mortal, mesmo que não tivesse plantão no sábado, não teria dinheiro sequer para o peixe da Semana Santa (o salário ainda não saiu), concordei.
Habitualmente, o movimento começa perto das nove da manhã. Hoje foi diferente. Às oito horas chegou uma senhora de 77 anos com dor de cabeça intensa há 3 semanas. Tinha pressão alta e usava medicação. O exame físico mostrou uma PA de 150 x 90 mmHg, alta, mas não tanto. Havia rigidez de nuca. O resto estava normal. Solicitei uma ambulância para uma exame de líquido céfalo-raquidiano e descartar meningite.
A seguir, outra senhora, de 88 anos, encaminhada por um médico da família. Não entendi metade do encaminhamento por causa da letra, exceto que “se continuar em casa irá a óbito”. Parabéns, doutor, isso eu estava vendo. Também não entendi metade das hipóteses diagnósticas. Segundo a família, há um mês ela sentia fortes dores por todo o corpo, não conseguia andar e não comia. Não era hipertensa, diabética, nem bebia ou fumava. A ambulância que a trouxera havia simplesmente deixado a paciente e ido embora sem falar comigo. Acontece que ali não era o local correto para dar suporte a um quadro daquele, e interná-la ali nem resolveria o problema, nem ajudaria a descobrir o que estava acontecendo. Como uma das hipóteses legíveis era mieloma (o médico é hematologista), consegui uma transferência para um hospital com residência em clínica e pedi uma ambulância. Enquanto isso, fiz um analgésico e iniciei reidratação venosa. Pelo menos, ela parou de gemer e conseguiu dormir.
A enfermagem veio me avisar que uma das pacientes com fratura de fêmur estava mal. Ela estava bem no último sábado, quando a vi, mas nas últimas 24 horas, houve uma queda do nível de consciência e foi solicitado um parecer neurológico. Não deu tempo. A insuficiência cardíaca de longa data impediu o bombeamento correto de líquidos do pulmão e ela se afogou no seco. Edema agudo de pulmão. A filha contou que desde que um parente morrera com câncer há alguns meses ela havia desistido de viver. Descansou.
Um senhor veio fazer o curativo no dedão do pé, onde foi feita uma raspagem há alguns dias. É diabético. O aspecto da ferida era bom. Orientei uma antitetânica e pedi que voltasse amanhã. Uma moça veio retirar os pontos da cirurgia de joanete. A enfermeira da clínica cirúrgica veio me avisar que a paciente com fratura no fêmur que tentou suicídio estava com a pressão 210 x 120 mmHg e precisava entrar no bloco cirúrgico. Antihipertensivo e tranqüilizante. Funcionou.
Uma paciente com plano de saúde chegou com diarréia aquosa e vômitos há quatro horas. Comeu um cachorro-quente suspeito ontem. Estava desidratada e com dor abdominal. Hidratação venosa, medicação para dor e vômito, coloquei em observação. Aquela senhora do pé diabético da semana passada voltou. Fé a antitetânica e a cicatrização está ótima. Orientei que a partir de agora podia vir a cada dois ou três dias para revisão.
A senhora com suspeita de meningite voltou. O exame descartou meningite, mas sugeriram que podia ser um derrame. Não havia muito que falasse a favor e não entendi por que não encaminharam de lá mesmo para um neurologista. Agora eu tinha que conseguir outra ambulância para transferi-la novamente. Às vezes os profissionais de saúde não pensam no paciente, só na doença. Eu disse às vezes? Esqueça. Quase sempre.
A essa altura já havia três horas que eu esperava uma ambulância para a paciente com dor. Haviam ligado para um vereador que tem uma ambulância. Pra variar, o município não dispõe do necessário e os políticos acabam prestando esse tipo de favor, a ser cobrado na hora da eleição. E quem sou pra reclamar, se essa tal ambulância é a salvação da pátria? Finalmente o motorista veio e levou a paciente.
Uma moça de uns 27 anos chegou aos gritos com uma dor abdominal. A família contou que há três meses que ela é socorrida, internada nos hospitais, faz exames e ninguém descobre o que é. Interessante a falta de interesse dos meus colegas: o sumário de urina revelava presença de glicose em grande quantidade, a urocultura mostrava a presença de uma bactéria E quais os antibióticos para tratá-la, a ultrassonografia estava normal. Infecção urinária. Um simples exame de sangue mostrou 255 de glicose. Provável diabetes. Simples assim. Internei-a para confirmar.
A paciente da diarréia melhorou. Provavelmente é mais uma diarréia por rotavírus. Mandei—a para casa com orientação dietética e de sintomáticos. Acho que a Semana Santa dela não vai ser das melhores. Uma senhora que atendi semana passada voltou com os exames pré-operatórios para uma cirurgia de hérnia incisional. É hipertensa, mas não tem colesterol alto, diabetes, parasitoses. Tudo OK. Para o cirurgião e boa sorte.
Mais uma velhinha com fratura de fêmur. Internação, questionário de todas as doenças, lista das medicações que usa. Avisei da reserva de sangue para a cirurgia.
Um rapaz com o rosto inchado há uma semana. Teve uma infecção de pele recentemente. Provavelmente isso afetou o rim. A pressão estava alta. Solicitei exames, diminui o sal da dieta e pedi que voltasse amanhã. Um senhor com diarréia por intolerância a lactose trouxe o resto dos exames e ficou provado que não tinha parasitoses intestinais ou gastroenterite. Se ele não tomar mais leite, tudo bem.
A esposa do paciente que teve alta no sábado após retirar o aparelho de fixação externa da perna voltou, apavorada. Está saindo secreção purulenta do local e a volta pro ortopedista ainda é para maio. Orientei que voltasse imediatamente. Ela morria de medo que o médico brigasse com ela, que pensasse que ela não havia cuidado do marido. Expliquei que ele podia morrer se não viesse logo e ela prometeu trazê-lo.
No final do plantão chegou mais um velhinho com febre, vômitos e garganta inflamada. Ainda bem que não tinha diarréia. A pressão estava alta. Mediquei-o e mantive em observação.
Estava fechando as malas quando o telefone tocou. “Doutora, uma urgência”. Uma gestante de sete meses havia desmaiado. Gravidez de alto-risco por baixo peso. Verifiquei a pressão. Estava 140 x 80 mmHg. Pressão arterial de gestante deve ser baixa. Sempre. O perigo é de convulsão e morte. É a chamada eclâmpsia. É comum na primeira gestação, como o caso dela. Ainda bem que a maternidade dista uns 500 metros, e ela seguiu para lá.
Daqui a pouco tem mais 24 horas de plantão por lá. Boa noite.
Plantão da segunda-feira

Mais um dia com uma pediatra de férias. Trabalho dobrado, claro. Uma menina de oito anos chegou cheia de hematomas e equimoses, anemia e um caroço na axila. O exame físico revelou outros na virilha e atrás dos joelhos. O quadro iniciou há uma semana, mas quem visse só pensava em espancamento. Internei-a e expliquei à mãe que algumas doenças podem causar aquilo e que uma delas era leucemia. Nossa obrigação era investigar e, como aquela é uma cidade de interior, provavelmente ela iria para Recife, onde há mais recursos para investigação. Ela ficou preocupada mas não se desesperou. Graças a Deus.
Uma garotinho de cinco anos caiu de uma árvore. Parecia apenas uma torção, mas o raio x mostrou uma fratura de tíbia. O traumatologista mandou engessar. Uma menina tropeçou na escola e torceu o tornozelo. Imobilização.
Bebê de um ano chegou com diarréia e desidratação grave há uma semana. Já havia sido internada por três dias em outra cidade e melhorou. A mãe disse que desde que voltou para casa a diarréia reiniciou. Não quis mandá-la para a enfermaria, preferi mantê-la na observação, sob minhas vistas. Provavelmente era diarréia por rotavírus, a mais comum, mas a hipótese de cólera nunca é descartada. Falando em cólera, o menino da semana passada acabou vindo para Recife e os exames mostraram que NÃO era cólera. Era rotavírus. As pessoas podem pensar que não, mas os médicos ficam felizes quando erram. Eu fiquei satisfeitíssima.
Era o dia do traumatologista. Um rapaz de 14 anos caiu de uma pitombeira e fraturou o fêmur. Qual não foi nossa surpresa quando o raio x mostrou vários tumores no fêmur. Era uma fratura patológica. A cirurgia, encaixada no mesmo dia, mostrou que eram tumores ósseos benignos. Uma viúva com três filhas trouxe todas para consultar. Ambas precisavam de remédios e ela não podia comprar nenhum. Graças aos anos de posto de saúde, sei mais ou menos o que o SUS fornece e consegui prescrever os remédios que haviam na farmácia do posto.
Outra senhora, que estava tomando conta do filho da vizinha enquanto esta viajava, trouxe o menino com pneumonia. Não podia internar porque tem filhos em casa. Prescrevi antibiótico e pedi que voltasse a qualquer sinal de piora.
Uma garotinho de dois anos, que vem ao meu plantão há três meses, voltou novamente. Ele levou um choque elétrico e desde então faz curativos e fisioterapia na mão por causa da queimadura. Acabou fazendo uma cirurgia porque não movimenta bem um dos dedos, mas não deu certo. Irá para Recife tentar novamente. O problema é que ele não deixa mexer, nem limpar. Sorte ao cirurgião.
A moça com hepatite voltou e os exames mostraram que ela está curada. Alta. Um rapaz com vômitos e dor na região do fígado é mais um provável paciente com hepatite viral. Solicitei os exames para confirmar, porque ele não está com os olhos amarelos. Falando em olhos amarelos, voltou também o paciente da hepatite alcoólica (que havia negado que bebia).
Uma menina de dois anos chegou com convulsão febril. Já é a terceira crise. A mãe conta que nem quando ela nasceu, prematura de seis meses, se preocupou tanto. Para completar, é alérgica a dipirona. Um antitérmico alternativo e banhos frios resolveram.
Vocês pensam que aquelas campanhas do Ministério da Saúde não servem pra nada? Uma mãe ouviu no rádio o Pedro Cardoso falando sobre tosse com catarro e trouxe a filha, pensando que era tuberculose, porque a tosse tinha 3 dias. Na verdade, pensa-se em tuberculosa na tosse com mais de três semanas. Era pneumonia. A menina foi internada.
A menininha que nasceu cega parou o aleitamento. Tanta angústia deve ter secado o leite da mãe. Não a culpo. Consegui convencê-la a operar a filha para evitar um tumor maligno no olho.
A bebê da diarréia teve febre, não vomitou, evacuou só uma vez em 12 horas de observação. Internei-a e mandei-a para a enfermaria. Uma menina com suspeita de meningite seguiu para Recife. Logo depois chegou outra, que havia tido um traumatismo crânio-encefálico, vomitara quatro vezes, mas estava bem. Um telefonema à neurologista da emergência em Recife orientou que não mantivesse a observação ali, mas enviasse para a capital, devido ao risco de hematoma extra-dural.
Mais um internamento, garotinha com asma. Crises de asma à noite são piores de controlar. É melhor internar senão a criança acaba voltando de madrugada. Tem a ver com o sistema imunológico. Você já se perguntou por que toda doença piora à noite? Porque o sistema imunológico também descansa à noite. E a doença se aproveita disso.
Como sempre, a criança de nome famoso do dia: Fernanda Lima.
Plantão do sábado

Doze horas de plantão valem por vinte e quatro quando você tem que ver todos os pacientes internados e mais os da emergência. A moça que tentou suicídio e fraturou a perna estava bem, não teve nenhuma crise convulsiva. Dei alta a um rapaz que tirou o fixador externo do fêmur, após uma fratura num acidente de carro. A senhora de 99 anos com fratura de fêmur, está diabética. O paciente com ascite devido a cirrose hepática, drenou parte do líquido do abdome e está respirando melhor. Deve ter alta no domingo.
A senhora do pé diabético veio para o curativo diário e a cicatrização vai bem. Cobrei que fizesse a antitetânica que prescrevi. Aquela senhora de 92 anos que cortou as pernas apareceu. Está tratando de uma infecção no local. A pele, muito frágil, não deu pra cobrir toda a ferida.
Quem voltou foi o menininho da pneumonia de repetição. Fez antibiótico até o dia anterior. No dia seguinte reapresentou febre. Dessa vez, encaminhei-o para o serviço de referência de pediatria do estado, que atende tanto SUS quanto o plano de saúde. Se a Ideal implicar, ele terá o mesmo atendimento, sem pagar por isso.
A mãe de uma moça que atendi no último sábado veio me agradecer. Encaminhei-a com suspeita de meningite. A mãe estava trabalhando e eu disse que largasse tudo, pois a vida da filha era mais importante. ERA meningite viral e a garota ainda estava internada, mas passava bem.
Uma viúva de 70 anos veio trazida pelo filho. Desde que o marido morreu, há três meses, não tem ânimo pra nada. Foram casados por 56 anos. Como se escreve um diagnóstico de coração partido?
Um garoto de nove anos, com a mão cortada por azulejo, foi o espetáculo do dia. Foram necessárias quatro pessoas para segurá-lo, mas a sutura foi feita.
A bronca do plantão foi dada a uma paciente recorrente com alergia. Ela sempre chega quase sem respirar e sempre porque comeu alguma coisa que não deve. E tem uma lista dos alérgenos a que é sensível, MAS NUNCA LEU.

domingo, março 20, 2005

Dia seguinte

A senhora diabética voltou. Com o pé sangrando. Claro que ela não tirou o pé do chão. O próprio peso aumentou a rachadura e causou um grande sangramento. Isso somado à inflamação do calcanhar causou um calo de sangue e pus. Em 24 horas, tomando antibiótico e com a diabetes controlada! Bem que eu falei que com pé de diabético não se brinca. Fiz uma limpeza, removi o pus e o sangue, coloquei um curativo para proteger. Ela havia tomado a antitetânica e começado a medicação. Expliquei que voltasse todos os dias pra fazer o curativo com supervisão médica. E que tirasse o pé do chão.

"Doutora, venha rápido", o porteiro entrou e saiu correndo. Estavam fazendo reanimação num senhor de 70 anos. Estava morto, não adiantava mais. Chamaram a esposa de 68 anos. Foi um dos piores momentos de minha vida. "Meu amor, o que eu vou fazer sem você?". A gente pensa que um casal dessa idade não tenha esse tipo de atitude, mas eles só se tratavam de "meu amor". Ele e ela. Faziam tudo juntos, tinham caminhado mais cedo. Fiz uma medicação para ela, porque a pressão arterial estava muito alta. Ela só dizia que queria ter "ido primeiro". Quando procurei-a, lá estava ela no necrotério, agarrada com o corpo do marido. E eu não podia fazer nada.

Uma revisão de cirurgia mostrou uma deiscência de ferida operatória. Ou seja, "os pontos tinham quebrado". A paciente tossiu muito no pós-operatório e era obesa. Isso não ajudou que a ferida fechasse. Uma moça chegou com febre alta, desmaiada e com uma história de dor na perna. O exame físico sugeriu artrite séptica. Foi transferida para exames mais detalhados.

Uma senhora com diarréia, desidratada, com vômitos. Iniciei reidratação venosa e deixei em observação por 12 horas. Ainda estava lá quando meu rendeiro chegou. graças a Deus, porque eu ainda tinha o aniversário da agente Vicky pra ir.
Plantão de 36 horas

Vida de médico tem umas coisas que, contando, ninguém acredita. Uma moça tinha tido um abortamento, fez uma ultrassonografia e verificou que o feto permanecia no útero, embora morto. A médica recomendou uma curetagem. Foi na farmácia e a balconista falou que era só tomar um remédio que saía tudo, mas precisava de receita médica. Conversa vai, conversa vem, descubro que o tal remédio era um abortivo, que não se vende em farmácia coisa nenhuma. Só é vendido para hospitais, e a liberação é mais controlada que medicação de tarja preta. Só é usado em casos de abortamento retido, como o caso dela, e em aborto permitido por lei, como em caso de estupro (nesse caso, tem que ter autorização legal). E depois da expulsão do feto, tem que fazer curetagem. Qualquer resto que ficar, é um foco para infecção, tétano, etc.
Pois por mais que eu explicasse, ela não se convenceu. Achava que eu podia dar um jeitinho e dar o remédio, tudo para que a família não descobrisse o que estava acontecendo. Não acreditava que guardaríamos seu segredo. Foi embora.

Voltou um paciente da semana passada com broncopneumonia, trazendo um raio-x, com suspeita de tuberculose. Veio com a esposa grávida. No meio da consulta, apareceu um funcionário trazendo um presente pra mim. Era uma toalha de mão pintada por uma moça, cujo dedo eu suturei semana passada. Lembro que ela esperou mais ou menos uma hora porque a emergência estava uma loucura com os pacientes com diarréia e vomitando. Acabei fazendo a sutura em cima da mesa onde faço o atendimento.

Uma senhora diabética com os pés rachados, estava com o calcanhar inchado e vermelho. Como a médica dela avisou do perigo, qualquer ferida nos pés é motivo de cuidado e uma consulta de emergência. Examinei ambos os pés à procura de mais lesões. Orientei que não caminhasse, colocasse o pé pra cima, e fiquei na dúvida se fazia ou não antibiótico sistêmico. Não havia nem um corte, propriamente dito. resolvi fazer. Também prescrevi uma antitetânica e pedi que voltasse no dia seguinte. Com pé de diabético não se brinca.

A recepcionista pediu que visse uma parente dela, que estava com muita dor e uns carocinhos nas costas. Era herpes zoster, o popular cobreiro. Quem tem zoster teve catapora em algum momento da vida e o vírus ficou por ali, esperando o organismo dar bobeira. Um câncer, AIDS, diabetes, um stress violento, uma exposição prolongada ao sol são bons motivos. Herpes zoster e herpes simples não são as mesma coisa, são vírus diferentes. O perigo de quem está com a lesão do cobreiro é que transmite o vírus da catapora, portanto, nada de contato com mulheres grávidas e com pessoas que não tiveram catapora. Esse isolamento só é necessário enquanto existem as bolhinhas. Depois que a lesão cicatriza, vida normal.

Existe uma expressão médica, na verdade uma entidade patológica: o paciente poliqueixoso. É aquele que se você perguntar 'o que você está sentindo?', pode ter certeza que ele vai se queixar de cada partezinha do corpo. Talvez isso tenha ver com a necessidade de atenção, quadros depressivos e o fato de ser difícil conseguir uma consulta médica. Trata-se de aproveitar a oportunidade. Em todo plantão chega pelo menos um. A desse plantão tinha uma dor de cabeça há três meses, desde uma pancada na nuca, uma dor no pé da barriga há dois meses, uma diarréia com sangue há duas semanas... Dá pra ficar doente só de ouvir.

Chegou uma senhora de 99 anos com fratura de colo de fêmur. Estava tentando fugir de casa e caiu. Pois você acredita que ela pediu à bisneta para ajudá-la a fugir do hospital, enquanto estava na ambulância? Ainda paquerou com o técnico do raio-x! sem falar no garoto de 14 anos com uma crise de labirintite porque tomou refrigerante demais.

A noite foi mais tranquila, sem internamentos, porque as cirurgias estavam suspensas. Os anestesistas não foram trabalhar devido ao atraso de pagamento. Só apareceu um velhinho, que tinha sido transferido há uns cinco dias, porque não tinha condições de operar a fratura de fêmur. Reconheci-o na hora porque ele tem hanseníase, mas não é por isso que a cirurgia foi contra-indicada. Tive pena dele, sendo levado de lá pra cá, sem que se resolva o problema.
Bolas!

Pintei as unhas. Pra quê? Fiz isso num impulso, pra dar um dinheirinho pra servente do hospital, que está sem receber salário há dois meses, sem que ela se sentisse ofendida. Trabalhou 15 anos em salão de beleza e foi muito recomendada pelas colegas. Eu não tenho tempo, saco, nem muito dinheiro pra viver em salão. Devo ir ao cabeleireiro de seis em seis meses. Já cheguei a passar um ano sem botar os pés por lá. É um exagero, eu sei, mas fazer o quê? Não tiro cutículas, uso as unhas muito curtas por causa do trabalho, mantenho o cabelo preso pra não cair por cima dos pacientes e é só. O melhor penteado que tive na vida foi quando passei a máquina 1 no cabelo, quando recebi meu diploma de médica. Pena não ter foto pra provar.

O trabalho da moça é mesmo impecável. Até massagem nos pés eu ganhei. E ela ganhou a freguesa. Quando excepcionalmente eu me disponho a ir pra manicure, passo pelo menos meia hora esperando. Apesar de pequeno, o salão da minha rua vive cheio. A pobre da manicure nunca diz nada, mas acho que pensa como uma médica tem umas mãos assim. Eu não tenho paciência pra cuidar das plantas usando luvas. E faço trabalhos manuais, artesanato, serviços de manutenção do apartamento. Sempre que apareço por lá, minhas mãos estão manchadas de tinta a óleo, arranhadas, com massa corrida por baixo das unhas, superbonder. Uma tristeza.

Pois só porque pintei as unhas, apareceu meio mundo de coisas pra fazer com as mãos. Lavar roupa. Nikita está com uma dor de barriga sem fim. Haja limpar o chão e lavar panos de chão. Dar banho na cachorra. Lavar as mãos toda vez que pego nela. Deu vontade de cozinhar e não sei fazer isso sem lavar as mãos o tempo todo. Resultado: pintei as unhas na quinta de manhã e hoje já estão descascadas. É por isso que nunca pinto com esmalte escuro. Além do mais, você já tentou tirar esmalte vermelho com acetona em casa?

Já que estou aqui, e neste estado, acho que vou pintar uma aquarela. Tchau.
Plantão da segunda

Numa palavra: miserável. Uma das pediatras do ambulatório está de férias por 15 dias. Atendi mais de 60 pessoas, com certeza. Meu colega atendeu mais 90. Atendi menos porque internei muita gente e internar demorar uma eternidade. Foram uns oito ou nove no total.

Lembra do que falei sobre atenção básica e que se acaba internando porque é mais rápido pra conseguir os exames? Pois é. Uma moça tendo cólicas renais direto, mesmo medicada e sem conseguir fazer uma ultrassonografia. Internada. Um bebê de cinco meses, em aleitamento materno exclusivo, apresentando sangue na urina. A mãe é agente de saúde e trouxe assim que viu. Como infecção urinária é um risco nos menores de seis meses, foi internada também.

Uma moça com hepatite, em acompanhamento ambulatorial, voltou com os exames de controle, para saber se podia voltar a trabalhar. Justamente o exame mais importante não foi feito. Como é pelo laboratório público, vai demorar pelo menos mais uma semana pra saber se ela pode ter alta. E isso porque eu pedi "urgente"...

Na hora do jantar chegou uma criança de um ano queimada, num acidente de moto. O próprio pai o colocou na moto e saiu pra dar uma volta. O cano de escape queimou a barriga e as pernas. Queimaduras de primeiro e segundo graus. Foi internada não devido à extensão dos danos, mas porque a família mora num sítio e não poderia vir todos os dias ao hospital para os curativos.

Uma auxiliar de enfermagem pediu para ver uma tia de 68 anos que estava com diarréia. Aliás, atendi mais de uma criança com febre, vômitos e garganta inflamada. Deve ser a virose da estação.

Atendi um garoto chamado, pasmem, Rubens Barrichello de Souza, ou da Silva, alguma coisa assim. Mães!

Uma senhora com uma crise hipertensiva, a avó daquela menininha que nasceu cega em um dos meus plantões. Soube que ela está crescendo é muito sorridente. Infelizmente, ela nasceu sem um dos olhos e o tecido que existe na órbita deve ser retirado, do contrário, vai cancerizar. Mas a mãe não quer. Preciso convencê-la e logo.

Um garotinho de oito anos havia bebido água da torneira entre duas e cinco da tarde. Às sete da noite a diarréia começou com vômitos. Eram umas dez e meia, e ele já não sabia quantas vezes havia ido ao banheiro.Parecia que a noite estava pra começar. Coloquei-o para hidratar, mas os vômitos persistiram. Depois de umas três horas, ele parou de vomitar e não havia reinicado a diarréia. Mas alguma coisa não batia para mim. Chamei a pediatra da maternidade, pedindo milhares de desculpas por acordá-la. Afinal, o plantão era meu e ela só estava dormindo no hospital para fazer o ambulatório no dia seguinte.
Uma atitude decente, e rara, entre médicos é saber até onde você sabe. Depois daquele garotinho com cólera, eu dei uma estudada legal, mas o quadro não era característico e quase todos o casos que acompanhei eram de adultos. Essa pediatra trabalhou na epidemia de cólera no estado. Eu precisava de uma segunda opinião. Ela achou que não era cólera, mas concordou em interná-lo e observar. Eram 2:45 quando deixei-o na enfermaria. Meu horário acabava às três. Boa noite.

3:20 h. "Doutora, a enfermeira da Pediatria quer falar com a senhora". Como eu havia instalado dois soros, uma em cada braço, imaginei que ela quisesse tirar um. Ledo engano. A diarréia havia recomeçado, líquida, tipo água de arroz, com cheiro de peixe. Num volume e frequência assustadores. Era cólera. Difícil calcular a reposição da água perdida. A mãe do menino estava apavorada. "Ele já fez xixi três vezes". Graças a Deus! A melhor maneira de avaliar se uma pessoa está hidratada é a diurese. O garoto tinha até lágrimas! Às cinco da manhã acordei a pediatra para avisar da evolução do caso, porque tinha que pegar o ônibus. Interessante: a mãe do garoto foi quem levou a menininha cega ao IMIP (Instituto materno-infantil de Pernambuco), é amiga da família e ensinou como desenrolar a marcação de médicos e exames.

Peguei o ônibos às seis. Dormi meia hora. Fui ao médico. Só pude me deitar às três da tarde. Vida de médico.

sábado, março 19, 2005

Plantão de Sábado (12.03.05)

Calmérrimo (amém!). Ainda bem, porque o pouco que teve me ocupou o dia. Além da evolução de todos os internos (uns vinte e cinco), faleceu uma paciente que já estava nas últimas, com infecção urinária + hipertensão + pneumonia. Existe uma linha muito tênue entre fazer tudo que é possível para salvar e prolongar um sofrimento irreversível. Espero saber sempre a diferença, mas sei que nem sempre é possível. Que Deus me ajude.

Uma mocinha com amigdalite bacteriana, com medo de tomar injeção. Uma senhora "desmaiada". Estava morta. Tivera alta há dois dias, e a família foi avisada que ela morreria a qualquer hora, pois tinha enfisema pulmonar. Apenas uma questão de tempo. Isso não impediu a triste cena da filha aos gritos, desmaiando, ao saber da morte da mãe.

Os habituais internamentos de pacientes com fraturas de colo de fêmur, a maioria velhinhos. Um rapaz com fratura exposta, emcaminhado para internamento. Um custo convencer o pessoal da ambulância que aquele hospital não trata fraturas expostas. Pra completar, era um familiar de uma das auxiliares de enfermagem do hospital. Até telefonar pro diretor telefonaram. Ora, se é ordem dele não internar fratura exposta, claro que ele disse não. O pessoal da ambulância ficou danado da vida, já era o segundo hospital que recusava.

Pra completar o dia, uma moça foi atropelada por um carro e o motorista socorreu. Uma pancada na canela (conhece osso mais exposto que a canela?). Pois o motorista não queria levá-la para uma emergência maior para um raio-x (para descartar fratura). Imagine o diálogo:
- Aqui não faz raio-x de urgência e o risco ali é de uma fratura exposta.
- E o que é pra fazer?
- Levar pro Hospital ***. Já telefonei pra lá e reservei a senha.
- E o hospital não pode levar?
- O hospital não tem ambulância e é obrigação de quem atropelou prestar socorro. Se a pessoa se recusar e a moça resolver processar, ganha na certa.
- E eu devia era processar o hospital porque se recusou a atender e não tem condições de socorrer. Eu pago meus impostos!
Detalhes: nós socorremos a paciente, fizemos curativo para parar o sangramento e proteger a lesão, administramos analgésico, tudo que era possível no local. E o hospital NÃO é público. É particular e presta serviço ao SUS. Como o município está nas mesmíssimas condições do Rio de Janeiro, dá pra entender por que não há ambulância. Faz dois meses que não pagam a ninguém!
Desaparecida

Semaninha terrível. O saldo da semana inclui um nome definitivo pra cachorrinha (Nikita) e a total destruição dos meus óculos. Vamos às atualizações:

Dois filmes fantásticos esta semana. "O carteiro e o poeta", que até então sempre acontecia algo e nunca assistia, e "Tiros em Columbine", do Michael Moore. "O carteiro.." vale pela história, pelo cenário e pelo Massimo Troisi, que Deus o tenha. "Tiros em Columbine" é uma cacetada no modo de viver americano. Simples, direto, perfeito. Ambos mereceram seus Oscars.

Parabéns para as agentes Vicky e Gláucia!

domingo, março 13, 2005

E ontem foi o aniversário da minha cidade!

Mas eu cheguei tão cansada do plantão que não postei nada. Passei dezessete anos pra voltar pra cá e não me arrependo um só minuto. Coisa boa é a gente morar onde gosta!

Do X-Fonte
Duchovny fala sobre o início de Arquivo X 2 e Meus lugares escuros
Por Érico Borgo
1/3/2005

David Duchovny confirmou à revista Empire australiana que o segundo filme de Arquivo X deve começar a ser rodado em dezembro.

"Estamos todos felizes em fazê-lo, eu, Gillian [Anderson, a Scully] e Chris Carter [o diretor]. Agora é só uma questão de conseguir reunir todo mundo no mesmo lugar. Eu acho que vamos começar a filmar em dezembro, durante o inverno", declarou.

Mais uma vez, Duchovny comentou que a idéia para o novo filme é fazer um suspense sobrenatural independente da série ou do filme anterior. "O primeiro era sobre conspirações alienígenas e eu acho que ele afastou um pouco o público por conta disso. Eles devem ter achado que era melhor não assisti-lo pois não viam o programa. Assim, vamos fazer algo totalmente separado desta vez para recebermos melhor esse público", concluiu.

O ator também falou sobre o romance de James Ellroy, Meus lugares escuros: "Tenho pensado em fazê-lo há quase dois anos e meio agora. Estou doido para começar a atuar nele. O roteiro está pronto, mas precisamos ainda selecionar o elenco e o diretor", informou.

O livro, pesadíssimo, conta a história da investigação particular conduzida há alguns anos por Ellroy - o escritor de Los Angeles - Cidade proibida (L.A. Confidential) -, obcecado por encontrar o assassino de sua mãe, mulher voluptuosa e de caráter duvidoso, nos subúrbios de Los Angeles. Na obra, o autor também expõe sua infância traumatizada e fala sobre sua adolescência, quando foi mendigo, ladrão e viciado. Ellroy financiou sua investigação com o dinheiro obtido através da venda de seus livros, grandes sucessos de crítica e público.


Fonte: Omelete"

sexta-feira, março 11, 2005

Médicos terão de comprovar especialização

Do Jornal Hoje

A partir de abril, os médicos vão ter de comprovar a especialização que eles dizem ter. A exigência é do Conselho Federal de Medicina.

São mais de 30 anos de medicina. Iphis Campbel já perdeu as contas de quantos congressos, cursos e seminários já participou e acha que vida de médico não pode ser diferente.
“O conhecimento avança rapidamente. De um ano para o outro você pode ter não só as chamadas novidades como um referendo de algumas coisas que já aparecerm. Isso é uma coisa anual”, disse Iphis Campbel, dermatologista.

Para conseguir o título de especialista o profissional faz residência na área em que quer atuar.

Depois de formado o médico não é obrigado a participar de cursos.

O próprio Conselho Federal de Medicina reconhece a necessidade de incentivar os profissionais a se reciclarem.

Começa em abril um processo de revalidação dos títulos dos especialistas.

O modelo vai ser parecido com o da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que já concede aos profissionais que participam de congressos e seminários um diploma de médico atualizado.

A cada cinco anos o Conselho Federal de Medicina vai referendar o profissional que apresentar o certificado de participação.

Não há punição para quem não se atualizar, por isso, o Ministério Público considera que esse deve ser apenas o primeiro passo.

“Nós esperamos que a reciclagem venha prestigiar a especialidade e que nós cheguemos um dia em que cada médico deverá ter uma especialidade. E que nenhum médico só por ser formado, continue ostentando a frase forte de que “eu posso tudo”, disse Diaulas Ribeiro, promotor de Defesa dos Usuários de Saúde.

A preocupação é que médicos sem especialização não atue como especialistas.

“Nós temos mais do que a fiscalização, um processo educativo de orientar todos os médicos a que exerça a sua profissão com clareza a responsabilidade dizendo aquilo exatamente aquilo que são e que podem comprovar que são", disse Edson Andrade, presidente do Conselho Federal de Medicina.
Cura da diabetes?

Do Jornal Hoje

O Brasil comemora os bons resultados do transplante de células-tronco no tratamento do diabetes. A técnica foi desenvolvida há pouco tempo, mas os primeiro resultados são animadores.

Na última quarta-feira o Jornal Hojenoticiou que cientistas ingleses anunciaram o primeiro caso de cura de diabetes por transplante de células do pâncreas.
Aqui no Brasil, os médicos dizem que ainda é cedo pra falar em cura, mas quase todos os pacientes submetidos ao tratamento já estão livres das injeções de insulina.

O Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto começou a fazer o tratamento para combater o diabetes tipo 1 em 2003 e a técnica utilizada é muito simples.

As células-tronco são retiradas do sangue do próprio paciente, que é submetido a quimioterapia, que destrói o sistema imunológico.

Em seguida, as células-tronco são devolvidas para o paciente, como se fosse uma simples transfusão de sangue.

Em 10 dias o organismo já começa a produzir um novo sistema de defesa. As células do pâncreas agora são novas e funcionam normalmente.

Já na Inglaterra os médicos usam células do pâncreas de doadores mortos..

“Eles fazem uma terapia de reconstituição do pâncreas que perdeu a capacidade de produzir insulina. No nosso caso, o tratamento é dirigido ao sistema imune que está agredindo o pâncreas. Nós estamos tratando mais a causa da doença e eles mais a conseqüência”, disse Júlio Voltarelli, pesquisador da USP.

Em dois anos cinco pessoas foram submetidas ao auto-transplante para o tratamento de diabetes tipo 1.

Elas foram selecionadas porque estavam na fase inicial da doença, o que é decisivo para o sucesso do tratamento. Dos cinco pacientes, quatro não usam mais insulina.

O enfermeiro André Ricardo tomava duas dodes diárias de insulina. Há um ano fez o transplante e agora leva uma vida normal.

“ Me sinto totalmente curado. Nada de insulina! Se Deus quiser, vai ser pra sempre!”, disse André.

O SUS já autorizou o procedimento, mais sete pessoas devem fazer o auto-transplante em Ribeirão Preto este ano.

Mesmo com os resultados favoráveis, os cientistas preferem cautela antes de anunciar a cura da doença.

“Signfica apenas que o tratamento que a gente fez produz uma resposta clínica importante, mas nós não temos idéia da duração dessa resposta, por quanto tempo ela vai ser mantida”, completa o pesquisador Júlio Voltarelli.
Nome da cachorrinha
A cachorrinha continua sem nome e aprontando. Já derrubou roupa do varal, vive arrastando os panos de chão, fazendo xixi na sala apesar de todas as palmadas e gritos. Um funcionário do hospital sugeriu chamá-la de “Fani” e eu pensei em “funny”, porque me lembra uma música linda, linda, linda. Mas estou pensando seriamente em chamá-la de “X”. Ela é uma incógnita mesmo.
É roxa, é roxa!
Finalmente meu pezinho de boa-noite colocou uma flor. E é da cor mais rara, a muda que eu tinha morreu atacada pelos pulgões e eu não encontrava outra da mesma cor, nem em foto na internet.
36 horas de plantão

Começando o dia sendo chamada devido a pacientes internadas para cirurgias, portadores de hipertensão sem prescrição de qualquer medicação. Foram internadas no dia anterior por um cirurgião, que nem perguntou se ambas tinham alguma doença. Aliás, essa parece ser a rotina, com louváveis exceções. Uma calmaria de uma hora, mais ou menos, enquanto resolvi estudar diarréia. Depois, as portas do inferno se abriram. Pra variar, não havia médico na outra emergência. Foram 37 pacientes pelo SUS, mais outros de planos de saúde, seis internamentos, cinco transferências, incluindo uma fratura de úmero em um senhor de uns 60 anos. Simplesmente caiu. Osteoporose.
No meio disso, chega um garotinho de três anos, com 40,5ºC, há três meses tendo pneumonias repetidas. Após me comunicar com o hospital de referência do plano de saúde, solicitei um raio-x para interná-lo. A autorização e o internamento foram recusados. Motivo: carência. E o garotinho podia morrer. Consegui facilmente uma vaga num hospital público, com residência em pediatria, que provavelmente não apenas vai tratá-lo mas também investigar o porquê da repetição da doença. O plano de saúde era o Ideal. E o SUS ofereceu um serviço infinitamente melhor.
Enquanto isso, foi chegando mais gente. Às três da tarde eu havia atendido quatro casos de diarréia, três deles tão graves que foram internados. Depois de vários casos de cólera no Estado, resolvi chamar a Vigilância Sanitária. Não é ser alarmista, é ser cuidadosa. E o pessoal da vigilância concordou comigo e ajudou um bocado, notificando os casos suspeitos e orientado a equipe do hospital.

Já depois das sete da noite, começaram os internamentos pra cirurgias no dia seguinte. Uma paciente teve a cirurgia suspensa por uso de AAS. Deveria ter suspenso o uso quinze dias antes e o cirurgião não avisou.”Por que não me fizeram essa entrevista quando fui operada da outra vez?”. Porque não fui quem lhe internou, tive vontade de dizer. E ela vai ter que remarcar tudo por falta de orientação. Do contrário, poderia sangrar até morrer na mesa de cirurgia.
Chegou uma moça com vômitos e dor abdominal. Apendicite? A observação sugeriu que não. Um senhor de 100 anos (99 anos e 11 meses) com diarréia há quinze dias. Lúcido e desidratado. Internamento para observação. A essa altura eram dez da noite e eu tinha almoçado às duas da tarde. Pois acredite que não havia jantar para mim. Havia acabado. A vontade que tive foi de ir me embora. Como alguém deixa um plantonista sem comida? Eu não podia sair de lá! E não era porque eu sou a médica do plantão. Podia ter sido qualquer um, o segurança, a enfermeira. Precisou que Ado viesse trazer comida pra mim. E eu perdi a fome com a raiva.

O dia reiniciou às cinco da manhã, com a auxiliar de enfermagem mais mal-humorada que já conheci. Ainda bem que ela só ficou até sete. A que ficou também não é simpatissícima, mas pelo menos não reclama de tudo. Houve menos gente, mas não parei quase nada. Vários retornos de pacientes que atendi, com resultados de exames, referindo melhora ou piora de algum sintoma. Um deles confirmou uma suspeita de hérnia de disco quando trouxe o raio-x da coluna.
Uma senhora com crise hipertensiva e nervosa, o marido saiu de casa, de repente fez as malas. Um alcoólatra ameaçando fisicamente a família, incluindo a mãe de 68 anos. E uma paciente que tinha tido alta há dois dias chegou morta ao servico: enfisema pulmonar. A filha dela teve uma crise histérica e a pressão arterial subiu. E chegou meu rendeiro, graças a Deus! Doente, mas veio.

quarta-feira, março 09, 2005

Poesia do dia

Martha Medeiros

toda mulher tem um homem que se foi

um homem que a deixou por outra

um homem que a deixou por um câncer

um homem que nem mesmo a notou

um homem que a deixou por um ideal

um homem que sumiu num temporal

um homem que não passou de dois drinques

toda mulher tem um homem que se foi

um homem que foi pego em flagrante

um homem que prometeu um brilhante

um homem que saiu pra jogar

toda mulher tem um homem

que esqueceu de voltar
Dia da Mulher

from Agente Nanda

Estudo estatístico de países, representados pelas bandeiras dos mesmos.

Plantão da Segunda
Depois daquele caso de cólera, toda diarréia é suspeita. O pior é que apareceram às pencas, adultos também. Um cara apresentou convulsões durante um curativo no posto, 29 anos e me vem com a mãe, que presenciou a crise, ela não queria descrever a crise porque pode ser "aquela doença". "Qual?". Ela cochichou no meu ouvido: epilepsia, como se fosse contagioso só de ouvir. Ainda tem gente que acredita nisso, viu?
Imagina então a mocinha que chegou convulsionando, essa sim portadora de válvula intracraniana. com febre, dor de cabeça e vômitos. Devem pensar que a baba é contagiosa, não duvido. Foi pra descartar uma suspeita de meningite.
Foi o dia dos casos neurológicos. Um garoto na véspera de seu aniversário caiu e bateu com a cabeça. Parecia um machucadinho, mas ao examinar, havia um afundamento de calota craniana e vômitos, muitos. Foi passar o aniversário no hospital da restauração, com o neurologista pediátrico, com traumatismo crânio-encefálico.
Sem falar naquela enchente de consultas clínicas, porque, é claro que o prefeito inaugurou a tal policlínica, mas NÃO TEM MÉDICO! Políticos...
O ponto alto foi uma "mãe", com uma nenê de seis meses, há uma semana com diarréia (com muco e sangue), febre e vômitos. Sabe aquela descrição do quadro de desidratação, olhos encovados, pele sem elasticidade, moleira afundada? Era a menina. E a filha da "mãe" há uma semana sem dar nem soro caseiro. Claro que não dava de mamar. E muito tranquilamente me disse "eu não ia trazer, mas minha sogra ficou aborrecendo, dizendo que a menina tava mal". Deu vontade de estrangular. E não fui só eu. As enfermeiras nem se preocuparam em disfarçar. "Você quer matar sua filha, é?".
Lucro
Antes que alguém fique conjecturando qual o lucro do meu último plantão de sábado, eu conto: foi uma cachorrinha. até agora sem nome. Aceito sugestões. Quem quiser entrar no orkut, na Comunidade Ju & Du, há um tema só para ela. A agente Fernanda veio hoje especificamente escolher um nome. O problema é que a cachorra não tem cara de nada. "Coffee", "Starbuck", "Scully", "Frida". A Vicky sugeriu "Cate".

Sobre o plantão
Anormalmente calmo. Acho que finalmente apareceu médico na outra emergência. Ainda bem, porque havia uns vinte e cinco pacientes internos para evoluir e dar alta. E ainda faleceu uma paciente. Até que me ofereceram esse bebê. Nomes, please!

sábado, março 05, 2005

Fui me arrastando pro plantão

Sabe aqueles dias que dá vontade de ficar na cama, mas ainda bem que você saiu? Foi hoje. E o lucro foi imenso.
Alguém por aí leu meu blog

E pediu a receita do doce de gergelim (espécie). O que me fez correr atrás da sogra do meu pai, que vem a ser minha tia-avó. Com eu já havia prometido pra Márcia, a bestest friend da agente Vicky, aí vai.

Receita de espécie da família X (doce de gergelim)

Por Maria Amélia

1 kg de gergelim cru moído e peneirado
3 Kg de rapadura preta
1 pires (duralex) bem cheio de farinha de mandioca peneirada
1 colher (sopa) de gengibre ralado OU pimenta-do-reino moída
castanhas de caju para enfeitar.

Colocar a rapadura de molho em 1 litro de água na noite anterior, para dissolver. No dia seguinte, coar (a rapadura costuma ter bagaço de cana-de-açúcar e alguma sujeira) e levar ao fogo numa panela grande. Deixar ferver até o ponto de um mel fino.
Numa outra vasilha, misturar o gergelim e a farinha de mandioca. Acrescentar ao mel fino aos poucos mexendo para não formar caroços, enquanto mantém a fervura.Continuar mexendo até o ponto de soltar completamente da panela (como brigadeiro). Perto de tirar do fogo, acrescente o gengibre. Se quiser mais ardido, SUBSTITUA por pimenta do reino.
Enfeite com castanhas de caju.

sexta-feira, março 04, 2005

Trilha de um dia horroroso

Epitáfio

(Sérgio Brito)

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Notícias do Sindicato dos Médicos

ANVISA SUSPENDE COMERCIALIZAÇÃO DE REMÉDIO
O medicamento usado para diabetes, o Diamicron (80mg de comprimido) foi suspenso pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), na última quinta-feira (24/02). Testes feitos na droga confirmaram que as especificações técnicas não correspondem às que constam no registro. Além desse medicamento, a Anvisa apreendeu o anti-séptico bucal Mastruleite, por falta de registro. (com informações do DP).

HGV: REABERTURA DO AMBULATÓRIO AINDA SEM PREVISÃO
O Hospital Getúlio Vargas (HGV) foi fechado em novembro passado devido às rachaduras encontradas no bloco G da unidade. A direção do Getúlio Vargas pretende abrir uma unidade provisória onde funcionam os setores de transporte e limpeza. As adaptações devem custar para o governo R$ 230 mil. O trabalho só terá início após a aprovação da Procuradoria Geral do Estado, já que a licitação foi dispensada. Devido a essa séria de medidas, a reabertura da unidade não tem previsão. (com informações do JC).

CAMARAGIBE PAGA PARTE DA DÍVIDA
A Prefeitura de Camaragibe começou a amortizar parte da dívida com os 1,2 mil funcionários efetivos herdada da gestão passada. Foi quitada, sexta-feira passada, a folha de fevereiro e 50% do 13º salário do ano passado. Com isso, a despesa passará de R$ 2,1 milhões para R$ 2,45 milhões. Ainda estão pendentes os salários de dezembro e a outra metade do abono natalino, que totalizam R$ 900 mil. A expectativa do secretário de Administração de Camaragibe, Uka Lima, é que o débito seja sanado em dois ou três meses, também de forma fracionada. (com informações da Folha/PE).

PREÇO DE REMÉDIO PODE AUMENTAR
Até 31 de março a União anunciará o reajuste médio dos remédios para este ano. O índice seguirá a inflação acumulada em 12 meses, pelo IPCA, e pode ficar entre 7% e 8%. O último aumento foi autorizado em março de 2004 pela Câmara de Regulação dos Medicamentos (Cmed), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O índice médio foi de 5,7% e o máximo, de 6,2%. O mercado de medicamentos em circulação no País abrange cerca de 15 mil apresentações. Os reajustes devem ser cumpridos apenas pelos que ainda têm preços monitorados pelo Governo. Cerca de 1.800 apresentações têm preços livres. (com informações da Folha/PE).

NOVO TRATAMENTO DENTÁRIO PODE EVITAR OBTURAÇÃO
Um esmalte sintético desenvolvido pelos cientistas japoneses pode eliminar a necessidade da realização de pequenas obturações. O material é chamado de hidroxiapatita, a qual a composição química é semelhante ao esmalte dos dentes. Além disso, os cientistas do Instituto Dental FAP, de Tóquio, garantiram que com a nova pasta, será desnecessário o uso da broca nos tratamentos dentários. (com informações da BBC Brasil)


PLANOS DE SAÚDE PODEM FICAR MAIS CAROS
Aumento na carga tributária para os prestadores de serviço. É o que sugere a medida provisória 232 e pode custar mais caro para os usuários de planos de saúde. O reajuste representa 6% sobre os trabalhos prestados. As mensalidades poderão ultrapassar 17% para este ano, porque em maio terá o reajuste oficial da Agência Nacional de Saúde (ANS). (com informações da Folha de PE)

CÓLERA: RECIFE ALERTA POPULAÇÃO
Após a confirmação do caso de cólera no Recife, a Secretaria Municipal de Saúde vai distribuir de forma emergencial 20 mil panfletos na intenção de precaver a população da cidade. Além dessa medida, agentes comunitários foram acionados. Inicialmente, o material educativo será entregue nos 16 bairros do Distrito Sanitário VI, entre eles Barro – onde foi confirmado o mais novo caso de cólera. (com informações do Diário de PE)

FARMÁCIA FECHADA POR APLICAR MEDICAMENTOS SEM CONTROLE
A Vigilância Sanitária (VS) interditou na última quinta-feira (17/02) a farmácia Parceria localizada em Jardim São Paulo. Após denúncias anônimas feitas no disque-saúde, inspetores da VS constataram que, a drogaria havia realizado venda de medicamentos de controle especial sem nota fiscal, e estava aplicando injeções em jovens que querem aumentar massa muscular. Com a infração, o estabelecimento pode não ter a licença renovada, já que a situação é reincidente. (com informações da Folha de PE).

CRIANÇAS TERÃO NOVA CADERNETA DE SAÚDE
As crianças nascidas a partir deste ano vão ter uma nova caderneta de saúde, que vai substituir o cartão de vacinação. Mais completa, a Caderneta de Saúde da Criança possui 26 páginas, onde podem ser anotadas informações sobre a gestação, parto e pós-parto, saúde bucal, ocular e auditiva do bebê e também os tratamentos realizados. "Esse é um modelo muito mais completo que vai auxiliar não apenas os profissionais de saúde, mas principalmente as famílias, que vão ter acesso a um conjunto de informações sobre o crescimento e desenvolvimento da criança", disse o ministro da Saúde, Humberto Costa. O documento também tem espaço para anotações sobre suplementação profilática de ferro e vitamina A, medida encefálica, dicas de saúde e alimentação e um resumo dos Direitos da criança. (com informações da Folha de PE)

STJ SUSPENDE SALÁRIO-MATERNIDADE
Os ministros que integram a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) cassaram os efeitos de decisão da Justiça Federal de Niterói (RJ) que concedia às mães o direito ao salário-maternidade mesmo que não contribuam para a Previdência Social. Os ministros acompanharam o voto do presidente do STJ, ministro Edson Vidigal, relator desse processo, que considerou que a medida causaria "danos financeiros" aos cofres previdenciários. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que os gastos com esse benefício chegariam a R$ 721,8 milhões. Caso fosse mantida a decisão de primeira instância, as despesas com o salário-maternidade seriam absorvidas pelos que contribuem para ao INSS. (com informações da Folha de PE)

SERVIÇO/EMPREGO
A nova administração da Prefeitura Municipal de RERIUTABA, Zona Norte do Estado do Ceará, a 250 km de Fortaleza, está contratando médicos para o Programa de Saúde da Família (PSF). Salário de R$ 5.000,00 líquido mais plantões. Entrar em contato com o Dr. José A. Neto, secretário de Saúde – (88) 3637.2646.

ESTUDO DIZ QUE CONSUMO DE CENOURA REDUZ APARECIMENTO DE CÂNCER
Uma substância natural chamada falcarinol, presente na cenoura, pode reduzir o aparecimento de câncer, segundo pesquisa realizada pela Universidade de Newcastle Upon Tyne, na Inglaterra. O estudo está sendo desenvolvido para descobrir que quantidade de falcarionol é preciso para que o câncer não apareça. Os pesquisadores esperam que a descoberta ajude na criação de uma nova droga para combater o câncer. (com informações da BBC Brasil)

MICROSOFT E PFIZER SE UNEM CONTRA SPAM DE 'VIAGRA FALSO'
A fabricante de software Microsoft e o maior laboratório farmacêutico do mundo, Pfizer, decidiram se unir para combater redes que enviam e-mails indesejáveis na internet oferecendo um genérico de Viagra para venda.As duas empresas estão movendo 17 ações judiciais paralelas contra duas "redes internacionais de spam farmacêutico" que vendem o que alegam ser versões genéricas do remédio pela internet.A Pfizer disse que dois sites citados na ação venderam "medicamentos potencialmente perigosos" e não aprovados por regulamentadores.Os sites envolvidos são CanadianPharmacy e E-Pharmacy Direct.Além disso, a Microsoft moveu três ações contra geradores de spam que promovem drogarias online, tais como Discount RX, Virtual RX e EzeDrugStore.com. “Juntas, essas redes de spam já mandaram centenas de milhares de mensagens para usuários do serviço de e-mail gratuito Hotmail, da Microsoft, só no último ano", segundo declaração das duas empresas. (com informações da BBC Brasil).
Sobre o Oscar

A Gil perguntou sobre o Oscar. Aí vai:

Melhor Filme: Menina de Ouro
Só assisti "Ray", mas estava torcendo por "Menina de Ouro". Adoro histórias de vitórias pessoais. Se tiver um mentor então, amo! (acho que vou adorar "Menina de Ouro").

»Melhor Ator:Jamie Foxx (Ray)
CLARO que eu estava torcendo pelo Jamie. Desde "Colateral" que me encantei por ele. Gosto muito de Depp (de "Anjos da Lei" a "Piratas do Caribe"), acho DiCaprio um excelente ator (vide "Diário de um adolescente", "As filhas de Marvin", esqueça "Titanic") e o Clint mora no meu coração desde "Os imperdoáveis". Mas o prêmio foi para o melhor, tenho certeza.

»Melhor Ator Coadjuvante:Morgan Freeman (Menina de Ouro)
Não vi, mas o Morgan é um daqueles atores que me fazem assistir qualquer filme, só pela presença dele. "Um sonho de Liberdade" é , provavelmente, meu filme predileto. E olha que Red era irlandês (negro!).
Para todos os outros indicados, mais talento no próximo ano.

»Melhor Atriz: Hilary Swank (Menina de Ouro)
A Annette Bening é uma atriz querida (perdoem-me os puristas, mas eu adoro "Meu querido presidente", e não só pelo Michael Douglas). Juro que esperava ver novamente a tromba da Kate Winslet ao perder a estatueta. Vocês lembram da expressão dela quando a Juliete Binoche ganhou por "O paciente Inglês"? Foi no ano de "Titanic". Parecia a atriz mais injustiçada da história do cinema (quando quem devia ficar com raiva era a Lauren Bacall, favorita por "O espelho tem duas faces"). Devia ser pra fazer parzinho com o DiCaprio, que naquele ano, recusou-se a comparecer à cerimônica porque não havia sido indicado por "Titanic". Patéticos.
Aliás, aquele foi o ano do despeito. A Barbra recusou-se a cantar a música indicada de "O espelho tem duas faces", de sua autoria, porque não havia sido indicada como diretora pelo mesmo filme. Apesar dos pesares, é um dos meus mais amados filmes. Inclusive pela presença da Mimi Rogers. O papel se encaixa como uma luva. E eu adoro o Pierce Brosnan. (Ai, ai, lá se foram minhas poucas leitoras).

»Melhor Atriz Coadjuvante: Cate Blanchett (O Aviador)
Eu a chamo de atriz-camaleoa. Maravilhosa. Se você acha que ela é sempre a mesma, assista "Vida bandida" e "Cançao da esperança". A Natalie Portman está na minha lista desde "O profissional". Alguém que ofusca o Jean Reno merece atenção. É
é, eu acho aquele cara um charme!

»Melhor Diretor: Clint Eastwood (Menina de Ouro)
Juro que esperei mais uma sessão de flexões no palco (vocês lembram?). Lamentei muito pelo Martin (e pela agente Vicky, que estava numa torcida danada), mas aquele caubói mereceu.
Uma banana pro estúdio. Lembram da reportagem que postei, contando que ele precisa lutar por cada filme dele?

O melhor foi a entrega do prêmio. A Julia Roberts tem três defeitos (pra não ser perfeita): o péssimo gosto pra nomes pros filhos, trocar demais de namorado e o andar. Como uma mulher podre de rica como aquela não contrata um personal walker? Quando deram a geral com câmera no palco eu fui dizendo "Que mulher do andar mais...é a Julia Roberts, aposto!". Ainda assim, tenho certeza que todos os indicados queriam ter ganho aquele beijo na boca.

»Melhor Animação: Os Incríveis
Particularmente, eu adorei "Shrek 2". Sei que as músicas e o roteiro ajudaram bastante. Que o filme é legal? Sem dúvida. Mas deu saudade de "Procurando Nemo" ('continue a nadar, continue a nadar').

»Melhor Canção: Al Otro Lado Del Río (Diários de Motocicleta)
Eu estava torcendo por Accidentally In Love (Shrek 2), é contagiante. Ainda não tive o prazer de ouvir a vencedora dignamente ( o Banderas não me entusiamou). E quero, sim, ouvir a francesa Look To Your Path (Vois Sur Ton Chemin) (A Voz do Coração). Pra praticar meu quase extinto francês.

»Melhor Som: Ray
Obviamente "Os Incríveis" tinha que ser indicado, mas naquela cena do grilo, com o som da carroça, da respiração da mãe em "R'ay", eu soube. E disse isso pra Vicky. Da mesma forma que quando ouvi "Colors of Wind" em 'Pocahontas'. "Essa ganha o Oscar". Eu raramente digo isso, mas quando digo...é batata!

»Melhores Efeitos Visuais: Homem-Aranha 2
Se você vir os extras de "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" (e eu vi), vai entender a máxima de Spilberg sobre efeitos especiais. Ele diz algo como "efeitos especiais devem fazer parte do filme, e não parecer especiais". Eu torcia pra "Eu, Robô", mais pela simpatia do filme (assisti três vezes em dois dias!), mas "Homem-Aranha 2" tira o fôlego. Quando o filme acabou eu tive vontade de gritar "eu quero mais" (mas falei baixinho).


»Melhor Roteiro Original: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
A Vicky fala tanto desse filme que eu tenho que assistir antes de morrer. Espero que não seja depressivo, senão vai ter que esperar.

»Melhor Roteiro Adaptado: Sideways – Entre Umas e Outras
Estou louca pra assistir "Antes do Pôr-do-Sol", de tanto que a Vicky fala dos diálogos. "Em Busca da Terra do Nunca" precisa ser visto (e revisto) porque adoro Peter Pan graças a Monteiro Lobato. Infelizmente não pude lê-lo no original, como a Gal. Mas temo abandonar minha abstinência se assistir "Sideways".

Quando ao Chris Rock, tchau e benção!

quarta-feira, março 02, 2005

Plantão

Foram 24 horas tão ricas que será melhor narrar na ordem dos acontecimentos ou o que minha memória lembrar, o que vier primeiro.
Começando pelo homem da semana passada, que esqueci de descrever. Ele foi atendido pelo colega, referindo estar trabalhando com uma foice quando “uma bomba explodiu”. Não sabia o que havia acontecido. Havia perdido um olho na explosão e outro estava roxo e muito inchado. Havia várias lesões no rosto e couro cabeludo. Estava consciente, orientado. Foi solicitado um Raio X. De repente, nos chamaram. Estava convulsionando. O raio x mostrava múltiplos estilhaços no crânio. Parecia um bolo salpicado de confeitos prateados. “Tiro de chumbinho”, “espingarda soca-soca”, “foi tiro de doze”. Seguiu para a traumatologia em Recife com o diagnóstico de traumatismo crânio-encefálico por chumbo. Ontem soubemos que ele estava jurado de morte. Uma doze teria feito um estrago maior, e atualmente as espingardas de chumbinho têm apenas um estilhaço, são por ar comprimido: foi soca-soca, aquela espingarda que se carrega pela boca, com pólvora e múltiplas bolinhas de chumbo, pra caçar passarinho. Não sei se sobreviveu.
Ambulatório de Clínica Médica pela manhã. A maioria não era emergência. No entanto, a falta de médicos nos postos da região aumenta a demanda pro hospital. “Só tem médico de oito em oito dias”, é a frase que mais escuto dos pacientes. E uma queixa simples, solicitação de exames de rotina, receitas de medicações para diabetes ou pressão alta acabam na emergência. Pessoas com sarna, vermes, queda de cabelo, verrugas, etc. Não digo que a queixa é insignificante. Não é. É para isso que existe o programa de saúde da família. Imagine você com dor, febre, vômitos, ficar esperando enquanto o outro se consulta porque está se coçando há mais de um mês! Nos municípios que têm o PSF organizado, atendo a emergência e encaminho para o posto de saúde. É um modo de educar a população. Mas como fazer isso num local onde não há médico no posto?
Os funcionários do hospital contaram que hoje seria inaugurada uma policlínica municipal, com vários especialistas e pronto-atendimento. O prefeito, que é médico, se elegeu prometendo um hospital para a cidade. Para quê outro hospital se já existe um enorme, com convênio pelo SUS, com Pediatria, cirurgia, ortopedia, obstetrícia, etc? Falta é Atenção Primária: postos de saúde, policlínicas, laboratórios, referências médicas. Me espanta é um médico não perceber isso. É uma mania de político prometer hospital e ambulância, mas não oferecer o mínimo para que os habitantes sejam atendidos no mesmo município. Sabe por quê? É mais barato. Mais barato transferir o paciente pra capital, pro município vizinho, que arca com os custos do tratamento. A prefeitura só paga a gasolina da ambulância. Aliás, ambulância não, transporte. Raramente há oxigênio, soro, medicação. Geralmente é um carro adaptado.
Também é mais barato, a curto prazo, internar e tratar a queixa do paciente, que manter um posto de saúde, com medicação, vacina, pra prevenir complicações das doenças. Por exemplo, você tem dor de estômago. Internado uma semana, o hospital ganha dinheiro do SUS, você passa essa semana tomando remédio injetável (mais barato), fazendo a dieta correta e melhora. Tem alta e deixa o resto do tratamento pra lá até piorar de novo. Agora, no posto, você inicia logo um monte de exames (endoscopia, parasitológico de fezes, ultrassonografia), uma dieta (que a maioria dos pacientes não faz porque é muito cara) e o tratamento medicamentoso, se fornecido pelo posto e feito corretamente, deve demorar meses, se for uma gastrite. O que é mais barato? Agora conte 30 anos disso, descubra que a gastrite era causada por um H. pyllori e agora você tem um câncer de estômago. O que era mais barato mesmo?
Voltando ao plantão. Crianças com febre, vomitando. Um menino de dez anos com suspeita de hepatite medicamentosa após uso de amoxilina para amigdalite, prescrita por médico. E tem mãe que faz antibiótico no filho ao menor sinal de febre, com se fosse antitérmico. O Conselho Tutelar voltou a atacar, digo, a proteger. Dois irmãos espancados pelo pai, embriagado. A menina com traumanismo crânioencefálico, o menino com as marcas das sandálias tão nítidas nas costas que dava pra identificar que eram havaianas. Graças a Deus que o pai já havia sido examinado pelo outro médico e preso. Não queria dar de cara com ele. Soube notícias do bebezinho que socorremos há uns meses. Está com outra família. E como o mundo é pequeno, este pai de agora, é também pai da irmã mais velha daquele bebê. A mãe do bebê continua embriagada, pela rua.
Mais cedo, chegou uma mãe e uma mocinha de 14 anos para um exame “muito vergonhoso”. Ela fugiu com o circo que apareceu pela cidade e ficou quatro dias fora de casa. Quem cuidou dela foi o palhaço e, segundo ele, não teve nada com ela. “É um rapaz casado, sério, doutora.” Mas a família da moça queria uma prova por escrito da virginidade. Não foi essa semana que defloramento de menor de 14 anos deixou de ser crime grave pela Constituição?
Internamentos por Desidratação secundária a vômitos. Um casal recusou-se a internar a filhinha menor de um ano com diarréia sanguinolenta franca (você já ouviu falar em tifo?). Sempre crianças que não mamam, por que será? Até que finalmente...
Meia-noite e quarenta e nove. “Doutora, uma criança com uma diarréia”. E que diarréia. Sete evacuações desde as onze da noite. Havia vomitado mas a desidratação era tanta que não vomitava mais. Desnutrido. Cinco meses, cinco quilos. Não mamava. Mesmo que não tivessem ocorrido uns casos ultimamente, quem viu uma vez (e eu já vi vários), bate o olho e sabe: cólera. Veio da cidade vizinha e teria morrido se a mãe tivesse esperado o dia amanhecer.
Todos os auxiliares de enfermagem vieram tentar pegar uma veia, digo, duas. Ninguém conseguiu. Nem as meninas do berçário, que fazem isso em recém-nascidos. Não consegui um acesso intra-ósseo. A diarréia parecia água. Acabei levando-o pessoalmente para o hospital regional mais próximo. Mais uma pediatra e um cirurgião e muitas furadas para conseguir uma via parenteral de reidratação, mas conseguimos. E ele ficou internado.
Terminei há pouco de lavar todas as roupas, a bata e minha maleta. Já tomei uns quatro ou cinco banhos, mas o cheiro de peixe azedo continua. O mais importante eu já fiz: liguei pro meu professor e mestre, que me ensinou tudo sobre cólera, inclusive não hesitar. “Parabéns, X.”.Eu liguei pra avisar do caso e agradecer. Não merecia mesmo esses parabéns.