sábado, fevereiro 19, 2005

Semana no capricho.

Plantão na terça com o “colega”.

A justiça foi plena, ainda que, para quem é filho da puta, sempre haja um jeitinho de se safar. Passei o plantão de cama com cólica menstrual, uma das mais longas de minha vida, quase doze horas. Não atendi quase nada. Claro que sempre que me chamaram eu fui, me arrastando, mas fui. Acontece que só me chamaram pra ver os pacientes particulares. Em todos os casos de pediatria alguém atendeu os pacientes, mas desconfio que quase todos ele empurrou pras pediatras do ambulatório (havia duas). Reavaliei duas ou três, quando melhorei um pouco. Pra completar, uma dor horrorosa no joelho esquerdo revelou-se uma epicondilite, segundo o ortopedista do ambulatório. Costuma ser causada por esforço, é comum em jogadores de futebol e no cotovelo. Onde foi que eu arranjei isso? O tratamento consiste em crioterapia (onde se arranja tempo e gelo num plantão?), antiinflamatório (disponível ali, só injetável) e repouso (como?).
A única coisa realmente útil que fiz foi acompanhar uma gestante com 27 semanas de IG e 9 cm de dilatação, sem dinâmica uterina. Após umas dez horas sem evolução do quadro, e três telefonemas pra Central de Leitos, que se recusava a transferí-la temendo o parto na estrada, me ofereci para levá-la até Recife. Depois de um Voltaren injetável, claro, senão a cólica voltava.
Umas duas horas de estrada, parando noutra cidade pra solicitar sangue para um paciente do “colega”, que resolveu encher o motorista da ambulância com o pedido só pra aumentar o trabalho do coitado que já devia ter largado mas aceitou a viagem. Conversando pra não dormir, rezando a cada cruz na estrada pela alma do atropelado (e são muitas), até saber porque fazem umas casinhas com cruz em cima (colocam a imagem de um santo dentro e acendem velas pela alma do falecido) e descobrir que uma fila de 49 palmeiras-reais foi plantada diante de uma propriedade devido a um acidente que vitimou 49 pessoas (pra não colocarem 49 cruzes). Boa idéia.
Acabei revisitando a maternidade onde estudei uns dois anos e a quem devo quase todo o conhecimento de Neonatologia que tenho hoje. Ficou linda depois da última reforma. Deu uma saudade absurda daquele tempo (qualquer bronca era só chamar as pediatras do plantão), da sala de parto, das horas eu passávamos evoluido e avaliando os recém-nascidos. Deu vontade de ficar por lá.
Mais duas horas pra voltar, descobrir que aquele tipo de sangue estava em falta (só no dia seguinte), ainda bem que não era urgente. Saber das fofocas políticas das porcarias de uns municípios onde tive a infelicidade de trabalhar e ter a alegria de saber que pelo menos um prefeito havia sido derrotado na última eleição.
Cheguei mais de meia-noite em Surubim e descobri que quem ficou atendendo a pediatria foi a irmã do dono do hospital, que só estava dormindo por lá pra fazer ambulatório no dia seguinte. Pedi milhares de desculpas e falei que Dr Fulano havia dito que atendia a pediatia (acabou-se o tempo de ficar calada e levar a culpa pelo que não se fez). Ela nem se importou, ou é muito educada pra me dizer, de atender os pacientes. Deus a abençoe. Deu pra dormir umas duas horas. Então começou o meu horário e não parei o resto da madrugada. Mais uma das crianças que havia sido atendida pelo “colega” voltou, com prescrição de amoxicilina (acho que é o único antibiótico que ele sabe a dose pediátrica) e pior. Outra pneumonia, se não me engano.

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