sábado, fevereiro 19, 2005

Plantão em 16.02.05

Já estava certo que eu ia dar esse plantão para Roberto (esse, sim, um colega) desde semana passada. Avisei que o primeiro ônibus chegaria umas 8 horas e aceitaram. Conheci o hospital no sábado passado, quando foi meu primeiro plantão. Avisaram que o plantão era muito calmo porque havia duas emergências da prefeitura e só se ia pra lá quando era caso de internamento pra cirurgia. Pois no sábado não havia médico nas duas emergências e achei que na quarta também, pelo movimento ininterrupto.
Além de 24 horas de plantão pela frente, Roberto ligou na terça porque foi aprovado na residência em Fortaleza e pediu pra dar o plantão dele na quinta-feira. Mais 12 horas. E como estava indo embora, me ofereceu pra ficar com os dois plantões. Graças a Deus que estou mudando pra segunda-feira no outro hospital, então dava pra aceitar.
Não parei até nove da noite. Além da emergência, um paciente internado no sábado apresentou um sangramento digestivo, piorou e foi a óbito. Fui eu quem o internou, para uma cirurgia de fêmur, devido a fratura. Como sempre, perguntei sobre pressão, diabetes, alcoolismo, tabagismo, asma, uso de medicações, alergias, outras doenças. Tudo registrado na ficha. Ele negou tudo. Na quarta-feira, a filha falou que ele era alcoolista e a enfermagem me contou que ele fora pego fumando. Era meio-dia e ele havia apresentado outra hemorragia. Pedi uma endoscopia urgente, iniciei medicação pra gastrite. A EDA só seria feita sábado no hospital. Liguei pra Central de Leitos e solicitei uma transferência para o HR às três da tarde. A ambulância chegou às sete e meia da noite. Ele faleceu às seis.
Claro que não foi culpa da ambulância. A Central só tem três ambulâncias pra cobrir a região metropolitana de Recife e só libera pra grandes urgências. O motorista, que pegava às sete da noite, chegou às seis e meia e viu o pedido. Veio imediatamente. O interessante é que eu liguei cancelando a ambulância e me informaram que não havia nenhum pedido. O problema é que, além do hospital não ter ambulância própria, o município não libera as ambulâncias de suas emergências. Eu falei pessoalmente com a enfermeira-chefe de uma delas e a pobrezinha tem ordem de não liberar. Pior, dois pacientes que encaminhei pro HR foram até a emergência municipal pedir pra serem levados e não levaram. Ainda telefonaram pra nós, como se fosse culpa nossa. Já que a ambulância da Central estava por lá, consegui que os levasse. Descobri que havia, sim, médico na emergência municipal “mas como só tem um, só estamos atendendo grandes emergências”. Ora, eu também sou só uma. Ou esse povo me vê em dobro?
À noite teve pouco movimento. Acho que chegou mais um médico na outra emergência. Só acordei uma vez, com um paciente agitado após uma cirurgia de colo de fêmur. “Já passei quatro dias sem me mexer e agora me amarraram”. Era o efeito da anestesia raquidiana, claro que ele não se mexia. O resto na noite foi tranquilo, deu pra dormir. Mas nunca se dorme direito num plantão.

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