Crônica do dia (ou da madrugada)
Para os fora-de-forma e afins. Em homenagem à volta do Dr Dráuzio Varela ao "Questão de Peso", depois da febre amarela (um médico infectologista com a vacina atrasada numa região epidêmica!).
Normalimpíadas
Ricardo Freire
Depois de acompanhar as Paraolimpíadas, cheguei a uma conclusão: deficiente físico sou eu. Os homens e mulheres que disputaram os Paraolímpicos são superatletas - mil vezes superiores aos que se apresentaram nas Olimpíadas convencionais.
Dito isso, devo informar que ando mergulhado na mais profunda depressão. É que me dei conta de que, mesmo com uma miopia de apenas 3 graus, eu não teria nenhuma chance contra a Ádria Santos - seja nos 100 metros, seja nos 400, seja no pique-pega. Se me soltassem na quadra do basquete em cadeira de rodas eu certamente morreria atropelado. Nem que eu usasse os dois braços que possuo conseguiria arremessar um disco a uma distância maior do que daqui da mesa até ali a estante (destruindo todo o aparelho de som como conseqüência).
Não é mole, não. Primeiro você passa um mês assistindo aos bonitos e perfeitos e seus patrocinadores milionários. Quando pensa que tudo já passou, então é a vez deles, os imperfeitos e ainda assim sobre-humanos. Então você tira os olhos da TV, olha em torno do sofá, contabiliza a quantidade de embalagens vazias de salgadinhos e de invólucros de bombom sobre a mesinha de centro, e vê que isso não pode mais continuar assim.
É preciso reagir. Vamos levantar imediatamente do sofá e ir até o Comitê Olímpico Internacional. Chega de preconceito! As verdadeiras olimpíadas alternativas teriam de ser disputadas por pessoas saídas diretamente da frente de suas TVs. Atleta não entra!
Esta coluna orgulhosamente apresenta: as Normalimpíadas. Homens e mulheres perfeitamente sedentários competindo para descobrir até onde o ser humano pode chegar - sem o preparo físico artificial desses esportistas que, seja nos Jogos Olímpicos ou nos Paraolímpicos, estão aí só para nos achatar o moral.
Na semana de abertura você vai poder acompanhar as sensacionais competições de iatismo para pobres, pólo aquático para obesos mórbidos e revezamento 4x400 para fumantes.
Ainda na primeira semana, não perca o levantamento de peso para portadores de lordose. Os vencedores podem optar por um diploma, caso não agüentem pendurar a medalha no pescoço.
Em seguida virão o vôlei de praia para albinos (uma grande oportunidade para o desenvolvimento de novos produtos na indústria do bloqueamento solar) e o torneio de tênis para artríticos (em várias categorias: bursite, tendinite, artrose e ciática).
A natação para asmáticos só se tornou possível graças à construção de raias mais largas, que permitem o acompanhamento por enfermeiros munidos de bombinhas. Já o tiro ao alvo para estrábicos não tem jeito: caso seja atingido o alvo ao lado, os pontos serão computados para o vizinho.
A última semana será a mais divertida, com luta greco-romana para sofredores de cócegas, nado sincronizado para machões, futebol para drag queens, pingue-pongue para estressados e saltos ornamentais para sofredores de vertigem. Tudo culminando, é claro, com uma marcha atlética para colunistas engraçadinhos.
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
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