Plantão
Saco. De novo sem médico na outra emergência. Será? Eu devo sofrer de asbestose. Eu explico: é uma doença ocupacional aos que trabalham expostos às fibras de asbestos. Não. Eu não fui exposta a asbesto. Eu devo ter escrito "besta" na testa.
Ainda por cima, nos finais de semana, são os plantonistas que evoluem os pacientes internos do hospital. Beleza. Geralmente, são uns cinco, seis, uns dez, no máxino quinze, nos hospitais normais. Ali foram vinte e quatro! Sete altas. Você pensa que dar alta é dizer "vá pra casa"? Ledo engano. É uma papelada sem fim. Confirmar o diagnóstico, registrar os antibióticos, se houve infecção hospitalar, prescrever a alta, as medicações para uso domiciliar, marcar a volta, dar uma declaração dos dias de internação pro patrão não cortar os dias de trabalho do paciente...
E lá tem de tudo: ortopedia, traumatologia, obstetrícia, clínica. Só falta Pediatria. Bom, tem neonatologia. Parece uma prova final do curso de Medicina. Some com isso a emergência: 23 pacientes em 12 horas mais 7 internamentos! Faça as contas. 3 grandes emergências: um infarto, uma tentativa (pra valer) de suicídio e uma superreação alérgica. Já ouviram falar em edema de glote? Pois é. Eu ouvi e vi. Pois ainda houve uma filha de qualquer coisa que entrou reclamando porque a outra tinha passado na frente dela, que se o marido dela estivesse lá ia "dar porrada em todo mundo". Aí eu deixei de ser boazinha. "Emergência não tem essa história de 'eu cheguei primeiro', é quem está mais grave. Aquela moça estava MORRENDO, você sabe o que é isso? Se tivesse demorado mais 5 minutos tinha morrido". A qualquer coisa, digo, a mãe, me apoiou. Talvez por educação, a que ela não deu à filha, ou deu e a outra jogou fora, sei lá. Peguei esta moça fugindo da emergência após ter arrancado o próprio soro. E estava vomitando! Acho que não estava tão mal assim, não?
"Então não estava doente", foi o que um paciente disse algumas horas antes. Vejam como existe gente cheio de si: esse senhor estava mal, com falta de ar, sendo internado. Eu já havia medicado-o e ia preencher o internamento quando a recepcionista avisou que havia um paciente do outro lado, o dos planos de saúde. "Estou indo". Só faltava verificar a pressão arterial daquele paciente e ele ia ficar quietinho com o oxigêncio dele. Depois eu preenchia a papelada. Pois vocês acreditam que quando eu terminei de verificar a PA e anotar, pedi licença e fui até a recepção e a moça me disse que o outro tinha ido embora porque não quis esperar. Cinco minutos! Só porque ele tem um plano de saúde isso não dá o direito de passar na frente do pessoal do SUS. Atendo por ordem de chegada. Independente de ser particular, SUS ou marciano.
Falando em internamento, foram cinco. Quando você escutar o médico dizer "vou internar", pode ter certeza que ele estará pelo menos tão triste quando você. É pior, muito pior que dar alta. Devido às fraudes no SUS, eu imagino, é tanto papel que estou com o punho doendo até agora. Você escreve a mesma história e exame físico 3 vezes. Mais a prescrição. Enquanto isso, os outros esperam. Comecei a almoçar Às duas da tarde, parei pra atender uma emergência e terminei às três.
Pra encerrar, um atraso de quase uma hora para ser rendida. A colega está fazendo Residência Médica e apareceu um cirurgia às 18 horas. Deixa eu ir descansar que amanhã tem plantão de Pediatria.
domingo, fevereiro 20, 2005
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