sábado, março 19, 2005

Plantão de Sábado (12.03.05)

Calmérrimo (amém!). Ainda bem, porque o pouco que teve me ocupou o dia. Além da evolução de todos os internos (uns vinte e cinco), faleceu uma paciente que já estava nas últimas, com infecção urinária + hipertensão + pneumonia. Existe uma linha muito tênue entre fazer tudo que é possível para salvar e prolongar um sofrimento irreversível. Espero saber sempre a diferença, mas sei que nem sempre é possível. Que Deus me ajude.

Uma mocinha com amigdalite bacteriana, com medo de tomar injeção. Uma senhora "desmaiada". Estava morta. Tivera alta há dois dias, e a família foi avisada que ela morreria a qualquer hora, pois tinha enfisema pulmonar. Apenas uma questão de tempo. Isso não impediu a triste cena da filha aos gritos, desmaiando, ao saber da morte da mãe.

Os habituais internamentos de pacientes com fraturas de colo de fêmur, a maioria velhinhos. Um rapaz com fratura exposta, emcaminhado para internamento. Um custo convencer o pessoal da ambulância que aquele hospital não trata fraturas expostas. Pra completar, era um familiar de uma das auxiliares de enfermagem do hospital. Até telefonar pro diretor telefonaram. Ora, se é ordem dele não internar fratura exposta, claro que ele disse não. O pessoal da ambulância ficou danado da vida, já era o segundo hospital que recusava.

Pra completar o dia, uma moça foi atropelada por um carro e o motorista socorreu. Uma pancada na canela (conhece osso mais exposto que a canela?). Pois o motorista não queria levá-la para uma emergência maior para um raio-x (para descartar fratura). Imagine o diálogo:
- Aqui não faz raio-x de urgência e o risco ali é de uma fratura exposta.
- E o que é pra fazer?
- Levar pro Hospital ***. Já telefonei pra lá e reservei a senha.
- E o hospital não pode levar?
- O hospital não tem ambulância e é obrigação de quem atropelou prestar socorro. Se a pessoa se recusar e a moça resolver processar, ganha na certa.
- E eu devia era processar o hospital porque se recusou a atender e não tem condições de socorrer. Eu pago meus impostos!
Detalhes: nós socorremos a paciente, fizemos curativo para parar o sangramento e proteger a lesão, administramos analgésico, tudo que era possível no local. E o hospital NÃO é público. É particular e presta serviço ao SUS. Como o município está nas mesmíssimas condições do Rio de Janeiro, dá pra entender por que não há ambulância. Faz dois meses que não pagam a ninguém!

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