Plantão da segunda-feira
Mais um dia com uma pediatra de férias. Trabalho dobrado, claro. Uma menina de oito anos chegou cheia de hematomas e equimoses, anemia e um caroço na axila. O exame físico revelou outros na virilha e atrás dos joelhos. O quadro iniciou há uma semana, mas quem visse só pensava em espancamento. Internei-a e expliquei à mãe que algumas doenças podem causar aquilo e que uma delas era leucemia. Nossa obrigação era investigar e, como aquela é uma cidade de interior, provavelmente ela iria para Recife, onde há mais recursos para investigação. Ela ficou preocupada mas não se desesperou. Graças a Deus.
Uma garotinho de cinco anos caiu de uma árvore. Parecia apenas uma torção, mas o raio x mostrou uma fratura de tíbia. O traumatologista mandou engessar. Uma menina tropeçou na escola e torceu o tornozelo. Imobilização.
Bebê de um ano chegou com diarréia e desidratação grave há uma semana. Já havia sido internada por três dias em outra cidade e melhorou. A mãe disse que desde que voltou para casa a diarréia reiniciou. Não quis mandá-la para a enfermaria, preferi mantê-la na observação, sob minhas vistas. Provavelmente era diarréia por rotavírus, a mais comum, mas a hipótese de cólera nunca é descartada. Falando em cólera, o menino da semana passada acabou vindo para Recife e os exames mostraram que NÃO era cólera. Era rotavírus. As pessoas podem pensar que não, mas os médicos ficam felizes quando erram. Eu fiquei satisfeitíssima.
Era o dia do traumatologista. Um rapaz de 14 anos caiu de uma pitombeira e fraturou o fêmur. Qual não foi nossa surpresa quando o raio x mostrou vários tumores no fêmur. Era uma fratura patológica. A cirurgia, encaixada no mesmo dia, mostrou que eram tumores ósseos benignos. Uma viúva com três filhas trouxe todas para consultar. Ambas precisavam de remédios e ela não podia comprar nenhum. Graças aos anos de posto de saúde, sei mais ou menos o que o SUS fornece e consegui prescrever os remédios que haviam na farmácia do posto.
Outra senhora, que estava tomando conta do filho da vizinha enquanto esta viajava, trouxe o menino com pneumonia. Não podia internar porque tem filhos em casa. Prescrevi antibiótico e pedi que voltasse a qualquer sinal de piora.
Uma garotinho de dois anos, que vem ao meu plantão há três meses, voltou novamente. Ele levou um choque elétrico e desde então faz curativos e fisioterapia na mão por causa da queimadura. Acabou fazendo uma cirurgia porque não movimenta bem um dos dedos, mas não deu certo. Irá para Recife tentar novamente. O problema é que ele não deixa mexer, nem limpar. Sorte ao cirurgião.
A moça com hepatite voltou e os exames mostraram que ela está curada. Alta. Um rapaz com vômitos e dor na região do fígado é mais um provável paciente com hepatite viral. Solicitei os exames para confirmar, porque ele não está com os olhos amarelos. Falando em olhos amarelos, voltou também o paciente da hepatite alcoólica (que havia negado que bebia).
Uma menina de dois anos chegou com convulsão febril. Já é a terceira crise. A mãe conta que nem quando ela nasceu, prematura de seis meses, se preocupou tanto. Para completar, é alérgica a dipirona. Um antitérmico alternativo e banhos frios resolveram.
Vocês pensam que aquelas campanhas do Ministério da Saúde não servem pra nada? Uma mãe ouviu no rádio o Pedro Cardoso falando sobre tosse com catarro e trouxe a filha, pensando que era tuberculose, porque a tosse tinha 3 dias. Na verdade, pensa-se em tuberculosa na tosse com mais de três semanas. Era pneumonia. A menina foi internada.
A menininha que nasceu cega parou o aleitamento. Tanta angústia deve ter secado o leite da mãe. Não a culpo. Consegui convencê-la a operar a filha para evitar um tumor maligno no olho.
A bebê da diarréia teve febre, não vomitou, evacuou só uma vez em 12 horas de observação. Internei-a e mandei-a para a enfermaria. Uma menina com suspeita de meningite seguiu para Recife. Logo depois chegou outra, que havia tido um traumatismo crânio-encefálico, vomitara quatro vezes, mas estava bem. Um telefonema à neurologista da emergência em Recife orientou que não mantivesse a observação ali, mas enviasse para a capital, devido ao risco de hematoma extra-dural.
Mais um internamento, garotinha com asma. Crises de asma à noite são piores de controlar. É melhor internar senão a criança acaba voltando de madrugada. Tem a ver com o sistema imunológico. Você já se perguntou por que toda doença piora à noite? Porque o sistema imunológico também descansa à noite. E a doença se aproveita disso.
Como sempre, a criança de nome famoso do dia: Fernanda Lima.
quinta-feira, março 24, 2005
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