domingo, março 20, 2005

Dia seguinte

A senhora diabética voltou. Com o pé sangrando. Claro que ela não tirou o pé do chão. O próprio peso aumentou a rachadura e causou um grande sangramento. Isso somado à inflamação do calcanhar causou um calo de sangue e pus. Em 24 horas, tomando antibiótico e com a diabetes controlada! Bem que eu falei que com pé de diabético não se brinca. Fiz uma limpeza, removi o pus e o sangue, coloquei um curativo para proteger. Ela havia tomado a antitetânica e começado a medicação. Expliquei que voltasse todos os dias pra fazer o curativo com supervisão médica. E que tirasse o pé do chão.

"Doutora, venha rápido", o porteiro entrou e saiu correndo. Estavam fazendo reanimação num senhor de 70 anos. Estava morto, não adiantava mais. Chamaram a esposa de 68 anos. Foi um dos piores momentos de minha vida. "Meu amor, o que eu vou fazer sem você?". A gente pensa que um casal dessa idade não tenha esse tipo de atitude, mas eles só se tratavam de "meu amor". Ele e ela. Faziam tudo juntos, tinham caminhado mais cedo. Fiz uma medicação para ela, porque a pressão arterial estava muito alta. Ela só dizia que queria ter "ido primeiro". Quando procurei-a, lá estava ela no necrotério, agarrada com o corpo do marido. E eu não podia fazer nada.

Uma revisão de cirurgia mostrou uma deiscência de ferida operatória. Ou seja, "os pontos tinham quebrado". A paciente tossiu muito no pós-operatório e era obesa. Isso não ajudou que a ferida fechasse. Uma moça chegou com febre alta, desmaiada e com uma história de dor na perna. O exame físico sugeriu artrite séptica. Foi transferida para exames mais detalhados.

Uma senhora com diarréia, desidratada, com vômitos. Iniciei reidratação venosa e deixei em observação por 12 horas. Ainda estava lá quando meu rendeiro chegou. graças a Deus, porque eu ainda tinha o aniversário da agente Vicky pra ir.

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