sábado, abril 02, 2005

Saco!

As medicações prescritas por minha médica para uso contínuo perfazem quase 400 reais por mês. Preciso de MAIS um plantão.

Só preciso deixar de postar dois dias e a tarefa se torna hercúlea, devido à quantidade de casos clínicos que passam por mim todos os dias.

Ando pensando seriamente em trocar o nome do blog para “Plantão Médico”.

Ontem, na propaganda política, estavam mostrando situações absurdas de diversos serviços de saúde pelo Brasil. Como assim “absurdas”? Aquilo é o meu dia-a-dia. Aqueles casos não são isolados. Da mesma maneira que no Rio de Janeiro, a prefeitura de Camaragibe, que também tem gestão plena, não estava repassando os recursos do SUS para o hospital geral de Camaragibe, que é particular e conveniado ao SUS. Na maioria dos hospitais que trabalhei em minha vida, o médico tanto atende urgências quanto consultas. Em Cortês (não se engane, a população não era nada cortês), havia um número fixo de fichas para consultas, mas se as fichas de consulta acabavam, as pessoas eram atendidas como urgências. Em Capoeiras, o médico que vinha de Recife chegava por perto do meio-dia, devido à distância, e ia embora às três da manhã pra pegar o ônibus de volta. Havia trinta fichas de ambulatório para cada turno, mais as urgências, mais os pacientes internados. Era o único médico da cidade e os municípios vizinhos não tinham médico porque as prefeituras não pagavam direito. Em Surubim, foi inaugurada uma policlínica pela prefeitura há dois meses, e a demanda pro maior hospital da cidade continua a mesma, porque os propagados médicos especialistas não foram contratados.
Sem falar que a população vai se consultar nesses hospitais porque o médico do Programa de Saúde da Família não está no posto todos os dias. E não é porque está fazendo visitas domiciliares. É porque tem dias de folga, embora o Ministério da Saúde determine que a carga horária é de 40 horas semanais. Se ao menos esse médico desse plantão na cidade nos dias de folga no posto, eu entendia. Em Mossoró-RN, a prefeitura provou para o Ministério que não havia médicos suficientes para os postos e as emergências, organizou folgas de meio expediente nos postos e todos os médicos da rede davam plantão nas emergências. A pessoa sabia que se o doutor não estava no posto estava na emergência. Mas geralmente, há pelo menos um dia de folga nos PSFs nos municípios mais distantes para que o médico dê um plantão e tire um dinheiro extra. A própria prefeitura oferece um emprego atrelado ao outro. Como o PSF não paga o suficiente para dedicação exclusiva, muitas vezes o médico não quer permanecer a semana inteira no interior, sem conforto algum,longe da família, sem ter o que fazer à noite. Em São Rafael-RN, não pegava nem celular. Se você perdesse o ônibus da manhã, só pagando uns trinta reais pra ir de moto para Assu. Não tinha acesso à Internet, telefone, só orelhão. E eu dormi um mês num colchão, porque a prefeitura prometeu, prometeu e eu saí de lá sem ver a tal cama e com dor nas costas.

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