Plantão de segunda-feira
Não lembro de muita coisa. Esqueci de anotar os casos. Lembro do internamento de seu ***, portador de doença de Parkinson, com dor abdominal crônica. Poderia ser uma infecção urinária, mas sei que ele nunca espera completarem a investigação e pede pra ter alta. Interessante é que ele vive no hospital, enchendo a paciência de todo mundo, cheio de queixas. Sente dores por todo o corpo.
Meu colega estava no plantão do domingo e ficou muito aborrecido por perder uma paciente com um infarto fulminante. Ela teve dor no peito por três dias e só então foi ao hospital. Conversou normalmente com o médico e foi para o repouso, enquanto preparavam um eletrocardiograma e morreu. Simples assim. A filha dessa senhora foi atendida por mim à noite, arrasada. Com toda razão.
Também atendi um rapaz de 14 anos com dor no cotovelo após uma queda. O raio-x mostrava uma linha separando o corpo do rádio e o olécrano, aquela ponta do cotovelo. Como o olécrano é formado em separado, é comum confundir essa separação com uma fratura. Eu sabia disso, mas errei assim mesmo, pois imaginava que naquela idade já estivesse tudo soldado. Quem me corrigiu foi o técnico do raio-x. e eu aceitei numa boa. O corpo humano tem ossos demais, e vários só se formam com o crecimento. São poucos os médicos, exceto os especialistas, que sabem algo tão específico. O técnico vê isso todo dia, eu não. E tenho humildade suficiente pra reconhecer isso.
Inesquecível também, a mãe com filho gravemente desidratado e desnutrido, que assinou um termo de responsabilidade, porque não queria que ele fosse puncionado. Talvez fosse melhor esquecer...
sábado, abril 02, 2005
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário