sábado, abril 02, 2005

Plantão da quarta-feira

Finalmente dei alta para aquela senhora com pé diabético. Recomendei cuidados diários com pés, uso de sapatos macios e fechados e uma solução para rachaduras.
Internei uma senhora com as pernas inchadas há três meses, cheias de feridas, em uso frequente de penicilina injetável. Era uma celulite profunda (um tipo de erisipela mais complicada). Solicitei um exame para diabetes.
Uma outra senhora, com 55 anos, com diarréia, vômitos e febre. Estava muito desidratada, veio trazida por vizinhos. Foi colocada numa hidratação venosa.
Um paciente particular voltou com os exames que eu havia solicitado. Há quinze anos ele teve problemas gástricos e desde então não fazia tratamento. Estava tomando medicações por conta próporia pro estômago e antibióticos pra infecção urinária. Precisei de um tempão para convencê-lo a fazer os exames. A endoscopia revelou Esôfago de Barret, uma alteração na mucosa do esôfago exposta há muitos anos ao refluxo do ácido gástrico, cujo próximo passo, se não tratado, é um câncer de esôfago. O tratamento exige um especialista, é prolongado e muito caro. Enviei-o ao um professor meu, com urgência, depois de explicar que não era câncer, mas precisava de acompanhamento urgente.
Um rapaz com asma, em uso de corticóides. Expliquei que se não usasse a bombinha de broncodilatador, não adiantava. A asma costuma melhorar apenas com broncodilatador, mas nas crises mais sérias ou prolongadas, é preciso corticóides por algum período. Na asma grave, o uso de corticóides é contínuo e associado a broncodilatadores e outras medicações. Depois da aplicação simultânea de broncodilatador e corticóide, ele melhorou. Associei um antialérgico e o liberei.
Uma moça com escabiose (sarna) se coçou tanto, com as unhas sujas, que formou um abscesso no abdome. Foi uma luta para drená-lo. Quando o pus se forma, não adianta apenas tomar antibióticos, é preciso tirá-lo. Por uma questão química, anestesias não funcionam em locais inflamados devido ao pH. A injeção é um sofrimento adicional. E a paciente não ajudou em nada gritando antes mesmo que eu começasse o procedimento e mesmo quando eu parei. Coloquei um dreno para evitar que juntasse mais pus e pedi que voltasse no dia seguinte.
Um rapaz com dor de garganta, dor de cabeça e dores pelo corpo também parecia mais uma vítima da virose. Como ele não estva muito bem, pedi um hemograma, embora a garganta estivesse apenas inflamada.
Chegou uma velhinha com fratura de colo de fêmur há 15 dias. Ela caiu e conseguiu cvontinuar andando mais uns dias, até que não aguentou e foi levada pro hospital. Preparei o internamento.
Começou o jogo do Brasil x Uruguai. Embora a seleção estivesse jogando bem, preferi tirar um cochilo. A experiência mostra que só aparecem grandes urgências durante esses jogos. Todo mundo que tem algum incômodo espera o jogo terminar. Dito e feito. Foi só o juiz apitar que reiniciou tudo.
Um mulher com dor de cabeça e vômitos, além de dores pelo corpo e rigidez de nuca. Já tivera meningite duas vezes antes. Não quis arriscar e mandei-a para um exame de líquido céfalo-raquidiano, após controlar a pressão. Felizmente era apenas essa virose maluca que anda derrubando uma porção de gente.
O rapaz da asma retornou. Estava usando APENAS o antialérgico. Expliquei novamente que apenas a combinação das medicações o faria melhorar, que poderia interná-lo até uma melhora maior, mas ele não quis. Disse que voltava se piorasse.
Uma moça chegou à uma da manhã com dores pelo corpo, aos gritos. Ninguém sabe o que ela tem, está em investigação, aguardando uma tomografia. Um analgésico potente resolveu, graças a Deus.
Às seis, chegou uma moça com dores no peito e braço esquerdo. Ela é hipertensa, mas a dor aumentava à palpação do esterno e musculatura. Era uma DORT, doença ostéo-articular relacionada ao trabalho, antigamente conhecida como LER (lesão por esforço repetido). Ela é caixa em um supermercado e precisa se afastar para tratamento. Fiz um antiinflamatório e encaminhei-a urgente ao ortopedista.

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