quarta-feira, abril 27, 2005

Graças a Deus, "Globo 40" acabou.

Eu já não aguentava mais. Mas a Raquel deu de dez nos comentários

Não! Ainda tinha que ter o Bial, fazendo o papel de Mial com a Marinete. Socorro!
O Bial anda mudando a maneira de apresentar. Será influência do Cid?
Toda vez eu acho que o Chapelin devia apresentar de óculos... gato!
Outra bonequinha: Ana Paula. Será que essa mulher acorda assim, maravilhosa?
Ai! A torre Eiffel com pisca-pisca... E o Caco (suspiro).
Ivan Lins! Ivan Lins!
Linda essa idéia da Regina junto com ele, SE a gente ouvisse a voz dela.
Cachorra filha da p...poodle. Bateu na tonada e desligou a TV na hora da homenagem aos falecidos.
Como minha memória é horrível, eu tenho mania de “matar” o povo e sempre me surpreendo ao rever a imagem dos que já foram. Sempre me pego dizendo “ah, não sabia”, “nem lembrava”, “Eita, fulando tinha morrido”?
Quem é que supervisiona a dicção da Glória Maria? A mulher fica falando “mar”, ao invés de “mas”. A Fátima de sainha plissada! Eu nunca tinha visto “seu Lunga”! Saco! Lá vem o Cid. Desde o Mister M que ele mudou a empostação e parece uma tia (bicha velha).
AHG! Nikita furou a camisa que estava secando.
Porcaria! De novo o áudio.

terça-feira, abril 26, 2005

Mais Globo
O diretor de áudio deve estar possessso! Como é que o som falhou logo agora? E agora, atravessando “Emoções”?
É pra quem pode! A Fátima estava de cara lavada e cabelo escorrido às nove quando disse “boa noite” no JN, e agora às dez está de penteado alto e maquiadésima. E que vestido!
Quem escolheu esse do terno do Bial? Está justo demais. Bem podiam apresentar o Bial ao alfaialte do Bonner... E essa gravata do Tarcísio?
E a Ivete errou a letra do “Sítio”! E essa imitação cruel do Raul? Alías, Xuxa e Ivete não dá. Saudades do musicais infantis da Globo antes dessas “fadinhas” (Xuxa, Angélica, Eliana, Mara...).
É vendo a Cléo que a gente percebe como o tempo passou. E agora com esse flashback da Glória...
Quem é o diretor dessa joça? Agora estão matando a voz da Ana Carolina. É impressionante como conseguem. Daqui a pouco vão matar qualquer coisa do Chico. Aliás, bem podiam ter acinturado esse blazer da Ana. Será que trocaram a roupa do Bial com a dela?
Bem podiam ter posto o Léo Batista pra apresentar essa parte do esportes. Eu ando meio chaia da voz do Galvão. Bom, só de terem evitado o Cid Moreira como apresentador já tá de bom tamanho.
Globo 40

Ontem o Globo declarou que, se passa em média três filmes por dia, são uns 4000 em 40 anos. Será que descontaram os filmes repetidos? “Curtindo a vioda adoidado”, “Top Gun”, “Ghost”, “Top Gang”, “mulher nota 1000”, os filmes dos trapalhões, da Xuxa... (Merda, a globo já começou a mutilar “Ghost”. Será que descontaram as mutilações também?)
Passam uma porcaria como “Os normais” pra comemorar os 40 anos e deixam “A partilha” pro Intercine. Eu certamente não alcanço isso.

domingo, abril 24, 2005

eu digo adeus sem palavras
perdi há muito a habilidade de me expressar
eu digo adeus sem jamais partir

esqueci como se vive
há muito me despedi de mim mesma
esqueci como é viver acompanhada

eu disse adeus para o mundo
falta lembrar como viver sem isso
devo ser a única pessoa no mundo que fica mais deprimida que antes quando vê flores
queria largar tudo e sair por aí
sem hora nem dia pra pra voltar
sem plano de vôo
sem vigia
sem porto pra ancorar

queria saber ser irresponsável
e assumir de vez essa minha loucura
que vive à espreita
mas não se assume

queria sair de vez do armário
desaparecer pelo mundo

garanto que não haveria boletim de ocorrência

sábado, abril 23, 2005

Meios de morte lenta


Há muitas maneiras de se cometer suicídio, não é apenas se jogar da varanda.
Seguir uma rotina, sentir-se inútil, se debater sem sair do lugar, faltar com a palavra, sentir culpa eternamente, são algumas maneiras.
Ter sonhos vívidos de como poderia ter sido se..., reconhecer que não se chegou a coisa alguma, não conseguir manter a agenda, as contas, os compromissos, os planos, os estudos, nada em dia, são maneiras ainda mais requintadas.
Não é preciso beber, fumar ou se drogas para cometer suicídio lento. Sei de tantas maneiras que encheria um livro.

quinta-feira, abril 21, 2005

E-mail triste

S.,
eu também não acreditei. João Germano tinha depressão severa e não aceitava se tratar. interessante é que ele fazia Psiquiatria, e acabou largando a Residência por causa da doença. A família fez de tudo pra ajudar, principalmente Wagno e a esposa de Germano, que eu não conhecia. Talvez o ano que ele passou servindo o Exército tenha acelerado o quadro. Eu não sabia da doença, sei na pele o que é ter depressão, perdi um período na faculdade e não teria concluído o curso se não fosse com a ajuda de vocês.
As informações que tenho são de Adriano, irmão de Germano. Ele foi encontrado diante do computador com um tiro no peito. Havia apenas uma bala no revólver, donde se supõe que ele queria mesmo morrer, ou estava fazendo uma roleta-russa. o computador estava ligado e havia um jogo de campo minado explodido na tela. Não havia qualquer mensagem para ninguém. Eu não fui para o velório ou sepultamento. Não fui para o de Sivonaldo ou de Alexandra também. Expliquei para Adriano que estou saindo de uma fase difícil da doença e vê-lo não me faria bem. Quando Alexandra faleceu eu perdi o Provão e atrasei toda minha vida em um ano porque não podia receber o diploma. Preferi ficar rezando por ele e Adriano entendeu. Acho que ajudei mais avisando a quem pude.
Lamento ser eu a lhe dar as notícias. Peço que se você souber o paradeiro de mais alguém e alguma forma de contato, me avise. Você pode checar quem está sem contato pela lista que enviei. Cada cor corresponde à época do último contato. obrigada por responder ao e-mail e lembro que o telefone de João Germano na lista é o da família. eles certamente agradecerão qualquer forma de apoio. Cecília também não ficou nada bem, ela casou-se há pouco.
Espero que mantenhamos contato e com melhores notícias,
Juliane Xaxá.
Em detalhes

Ando com alguns mantras para sobreviver a 72 horas semanais de plantão. Ajuda muito pensar que Mulder e Scully aguentaram mais barras que eu. De vez em quando eu me pego pensando "Mulder? It's me". É uma maneira pessoal de pedir socorro.

Rezar antes de entrar no plantão também ajuda, mas a melhor das preces ainda é a Oração da Serenidade. Por via das dúvidas, parei de beber.

Depois de 24 horas miseráveis no plantão o sábado 15, recebi a notícia do suicídio de um colega de turma. Por que sempre é quem menos se espera? Comprei meu remédio no dia seguinte.

Sei que Cristo disse pra perdoar seu irmão setenta vezes sete, mas xixi no colchão quatro vezes já é demais!

A Oração da Serenidade, como escrita por Reinhold Niebuhr:
"Deus, dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar as coisas que eu possa, e sabedoria para que eu saiba a diferença: vivendo um dia a cada vez, aproveitando um momento de cada vez; aceitando as dificuldades como um caminho para a paz; indagando, como fez Jesus, a este mundo pecador, não como eu teria feito; aceitando que Você tornaria tudo correto se eu me submetesse à sua vontade para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida e extremamente feliz com você para sempre no futuro. Amen."
Um inferno
esses últimos dez dias foram terríveis, incluindo o suicídio de um colega muito querido. Estou pagando (pra valer) por um novo dono pra Nikita, a única exigência é que more em uma casa com quintal. Ela não nasceu pra morar num apartamento. E é só.

sábado, abril 16, 2005

Do Não Discuto

Apaixone-se por mim. Não um amor de mesa posta, talheres de prata, toalha de renda, não um amor de terça-feira, água morna, gaveta arrumada. Apaixone-se por mim no meio de uma tarde de chuva, rua alagada, rosas na mão, um amor faminto, urgente, latejante, um amor de carne, sangue e vazantes, um amor inadiável de perder o rumo o prumo e o norte, me ame um amor de morte. Não me dê um amor adestrado que senta, deita, rola e finge de morto, que late, lambe e dorme. Apaixone-se felino, sorrateiramente e assim que eu me distrair, me crave os dentes, as unhas, role comigo e perca-se em mim e seja tão grande a ponto de me deixar perder. Ame minhas curvas, minha vulva, minha carne, me fecunde e se espalhe por meus versos, meus reversos, meus entalhes. Deixe eu me sentir amada, desejada, glorificada em corpo e espírito que eu nunca soube o que é ser de alguém, mas preciso que me ensines, que me fales, que me cales, amém.

Essa Patrícia é demais!
Do Por Falar Nisso

03/04/2005

João Paulo II - o Pastor visto do rebanho


O Papa João Paulo II foi de extraordinária importância para o mundo. Para citar apenas uma de suas realizações, ele ao promover decididamente o ecumenismo, ao visitar os principais sacerdotes dos judeus, dos muçulmanos, das religiões orientais, ao diminuir as diferenças entre as diversas religiões cristãs ele mostrou que a religião não é mais razão para guerra. As homenagens que ele vem recebendo dos fiéis das mais diversas religiões do mundo mostram que ele realmente conseguiu passar esta mensagem e, mais importante, ficam desmoralizados os líderes políticos que desejem se utilizar motivos religiosos para iniciar agressões e conflitos armados.



Já para os católicos ele apresenta duas visões, pelo menos. Uma coerente com o parágrafo acima, é a de um Papa que assumiu a igreja em um momento de baixa, traumatizada com o curto papado de pouco mais de um mês de João Paulo I e que foi antecedido por Paulo VI cuja encíclica Humanae Vitae desagradou e afastou a muitos fiéis por causa da proibição da utilização de anticoncepcionais. João Paulo II trouxe energia nova para Roma e trouxe de volta para a Igreja Católica uma influência no mundo que parecia estar perdida.



A outra visão mostra que João Paulo II não conseguiu caminhar na direção de dar uma resposta católica às demandas de um mundo onde a fé em Deus está cada vez mais relegada a um segundo plano. A Igreja Católica tem um desafio de continuar sua evangelização em um ambiente dominado pela ciência, onde a razão para todos os fatos da vida parece estar mais perto dos microscópios e telescópios do que na História Sagrada. João Paulo II não conseguiu avançar neste terreno, ateve-se a exigir dos Católicos uma fé absoluta na palavra dos evangelhos, talvez cedendo a ações de grupos muito conservadores e atuantes na direção da Igreja Católica como a Opus Dei tão popularizada agora pelo sucesso do livro “Código de Da Vinci”.



Caberá ao próximo Papa sem dúvida o papel de reconciliar a Igreja Católica com milhões de fiéis que acreditam na palavra e no caminho de Cristo, mas cujas vidas os levou a, por exemplo, casarem-se de novo, a não desejarem ter mais de um ou dois filhos, ou acham que não se pode obrigar uma mulher a ser mãe de uma criança que se sabe de antemão não possuir cérebro. E também gostariam de ver a Igreja não exigir que seus pastores abram mão de uma vida mais rica em termos humanos com a possibilidade de se casarem, criarem seus filhos e – até por isto – terem condições de melhorarem seu entrosamento com seus fiéis.



O mundo necessita de mais homens como João Paulo II, mas os católicos agora precisam de um Papa que priorize uma conversa interna, a uma arrumação de casa, onde se busque atualizar o catolicismo sem cair no oposto da Teologia da Libertação, mas mostrando onde esta a palavra de Cristo neste confuso e tumultuado início de milênio, neste mundo de informática, celulares, pesquisas de células tronco, comunicação instantânea, foguetes, telescópios espaciais, o diabo...



Eu falei diabo?

domingo, abril 10, 2005

Que coisa mais linda!



Eclipse total da lua
Médicos dos Flandres são favoráveis a dar fim à vida de crianças terminais

07/04/2005 - 22h43m

Reuters

LONDRES - Muitos pediatras na região dos Flandres, na Bélgica, apóiam e gostariam de permitir que crianças e bebês gravemente doentes tenham sua vida encerrada. A pesquisa realizada com 121 médicos e publicada na edição desta sexta-feira do jornal "The Lancet" revelou que três entre quatro médicos gostariam de tomar uma atitude quando tivessem certeza de que a criança morreria. Alguns dizem já ter feito isso.

- Quanto não há chance de um resultado positivo, então muitos pediatras tomam a decisão de encerrar a vida - disse o Professor Yvan Vandenplas, da Universidade Vrije em Bruxelas.

Ele e colegas enviaram questionários aos médicos encarregados da saúde de 292 bebês que morreram durante seu primeiro ano de vida, entre agosto de 1999 e julho de 2000, nos Flandres. Dos 121 médicos que participaram da pesquisa, três entre quatro disseram que gostariam de dar um fim ao sofrimento da criança.

Em 143 casos, ou 57%, uma decisão para por fim à vida da criança foi tomada. As ações envolviam a suspensão do tratamento, medicação de drogas para aliviar a dor em doses que podem reduzir a vida da criança ou dar uma dose letal de um tratamento.

Vandenplas não sabe o quão comum é a prática, mas um estudo realizado na Holanda e também publicado na "The Lancet" mostrou resultados semelhantes. A maioria das decisões de dar fim à vida tomada por médicos holandeses está relacionada à suspensão do tratamento.

- Mais de 70% das decisões foram tomadas porque as crianças não tinham chances de sobrevivência - disse Astrid Vrakking, do Centro Médico da Universidade de Rotterdã, que conduziu a pesquisa.

O número de ações para dar fim à vida das crianças na Holanda, entre 1995 a 2001, foi similar aos resultados de um estudo feito antes de 1995.

Vandenplas afirmou que as mesmas atitudes ocorrem em toda a Europa:

- Acho que ocorre o mesmo na Grã-Bretanha, França e Alemanha, mas ainda não temos dados coletados. Espero que os resultados dêem margem a discussões e ao desenvolvimento de padrões para que tudo seja feito seguindo uma mesma linha em vários países.

Vandenplas acrescentou que a maior parte das ações tomada por pediatras era realizadas após conversas com pais e com a equipe médica.
Plantão da quinta-feira

O dia começou às cinco da manhã e não parou mais. Sabe quando você não dorme muito e não te deixam em paz? Foi hoje. Como sempre, meus colegas internam os pacientes e não prescrevem medicação para dor (numa fratura de fêmur), para vômitos (num pós-operatório), querem que eu dê alta pra não ter que irem lá. É um tal de “Doutora, a senhora pode assinar a ordem pra tirar a sonda desse paciente? Pode assinar essa alta? Pode prescrever alguma coisa pra dor porque o paciente está morrendo e não tem ordem nenhuma?”. Hoje eu me enchi e registrei esses pedidos no livro do plantão. Escrevi textualmente que “os colegas cirurgiões acompanhassem seus pacientes durante a semana”. Já basta ter que evoluir uns trinta pacientes no plantão do sábado. Como é um (mau) hábito deles, provavelmente serei despedida, ou pelo menos advertida. Iteressante é que são pacientes deles, que eles operaram. Ou será que eles aprenderam que o cirurgião apenas existe dentro da sala de cirurgia?
Uma senhora que fez a cirurgia de uma fratura do tornozelo voltou, com muita dor e drenagem purulenta da ferida operatória. Osteomielite. Encaminhei-a para uma emergência grande apenas para trazer uma ordem de internação. Para quê essa burocracia? Ela é nossa paciente, foi operada neste serviço e tem uma complicação operatória. Precisava ir só para o médico ver o que eu já vi?
Um rapaz veio muito revoltado com a médica da outra emergência porque há três dias que tem febre e vômitos e não passam mais que paracetamol. Acontece que solicitaram exames para descobrir o que ele tem exatamente e ele não fez. O exame físico não mostrava nada de errado com os pulmões, pressão, garganta, abdome. Acaso há como adivinhar? Muitas doenças começam iguais e com o passar dos dias vão surgindo outros sintomas. Aquilo podia ser uma hepatite, uma meningite, uma leptospirose... Saiu de lá com a prescrição de paracetamol após hidratação venosa e a solicitação dos mesmos exames. Não se pode sair passando uma porção de remédios sem uma hipótese diagnóstica. Uma das maiores máximas da História pertence a D. João VI e vale para muita coisa em doenças “Quando não sabemos o que fazer é melhor não fazermos nada”, pelo menos enquanto você investiga e mantém o paciente vivo e confortável.
Assim que tive uma folga, convoquei a estagiária de enfermagem para fazer uma superlimpeza na perna daquela senhora. O debridamento consiste em remover todo o tecido necrosado até permanecer apenas tecido vivo. Não é uma tarela agradável, longe disso. Principalmente porque você só sabe que o tecido está vivo se dói e sangra. Levou uns quarenta minutos e algum sofrimento pra paciente, mas agora a medicação aplicada ia fazer efeito. Interessante é que apesar do sofrimento, eu ouvi “obrigada, meu amor”, da paciente. Vai entender.
Quando eu estava terminando o curativo, a auxiliar de enfermagem da emergência veio avisar que havia uma paciente para atender e que a filha dela estava reclamando que não tinha médico no hospital e que ali se morria à mingua, apesar de avisada que eu estava num procedimento na enfermaria. “Ela deve estar em alguma consulta particular”. Interessante é que o local de consultas particulares é distante da enfermaria, se fosse mentira, como eu ia sair do corredor da enfermaria? Sem falar que eu atendo quem chegar primeiro, SUS, particular ou plano de saúde. Terminei o curativo e fui até lá.
“Boa tarde, é a senhora que está tratando mal a auxiliar?”
Ela sorriu sem graça. “Eu não”.
“Se só tem essa paciente para atender e ela teve que me chamar na enfermaria, quem mais seria?”
“Pois então ela é uma mentirosa, porque eu não tratei ela mal. Você vai atender minha mãe ou não? Porque ela está passando mal”, perguntou quase me engolindo.
“É pra isso que eu vim, mas se a senhora falou com minha minha auxiliar desse jeito, então tratou mal sim, porque está gritando comigo”.
“Não estou!”
“Está. Eu vou atender sua mãe, mas a senhora espere lá fora”.
“Eu não vou sair daqui. É minha mãe”
“A senhora está me agredindo. Espere lá fora.”
“Se é assim não vai atender não. Pegue seu atendimento e soque...” e saíram.
De anjo a demônio em dez minutos.
Uma mocinha veio se consultar e a mãe me contou o final da história de outro plantão. O tio da menina bebe demais e tentamos interná-lo num hospital psiquiátrico. Para isso fiz sedação maciça. Pois o irmão dele, que decididamente não bate bem, comentou “vamos aproveitar que ele não acorda e apertar o pescoço dele até matar, que ele nem sente”. Inacreditável.
Quando terminei essa consulta, a paciente da osteomielite estava de volta. “Minha doutora linda, quanto homem bonito naquele hospital”. Eram os residentes de Medicina. E ela tem uns 80 anos. Apenas o corpo envelhece, e olhar não tira pedaço.
Mais uma fratura de fêmur, uma vo curativo na perna da paciente *(já havia menos dor e o aspecto era melhor), uma horinha tranquila e eu já estava fechando o plantão quando chegou uma senhora de 62 anos desmaiada. Ela estava tão mal que pensei que havia morrido. É hipertensa e diabética, e o coração não conseguiu bombear o sangue dos pulmões, enchendo-os de líquuido. Um edema agudo pulmonar. Existem duas grandes emergências em Cardiologia: infarto e edema agudo. Quando confirmei o que era, saí de perto e fui ajudar a preparar a medicação. De repente, ouvi “não tem médico neste hospital, não?”. Era o neto da paciente.
“Tem. Sou eu.”
“E só tem você?”
“Só. E estou preparando a medicação de sua avó. Se você ficar aqui gritando, ela vai morrer”
“Você vai matar minhar avó? Isso é um absurdo. Você não sabe nada. Sua imbecil!” e saiu.
Pegamos uma veia. A veia estourou. Eu precisava fazer a medicação para drenar o líquido dos pulmões, melhorar a função cardíaca, baixar a pressão, acalmar a paciente. E a filha dela ainda tentando justificar a atitude do filho, que era nervosismo, etc. Nisso, chegou meu colega da noite, que após muita dificuldade conseguiu uma acesso venoso central. Enquanto isso, sentamos a paciente, fizemos oxigêncio, medicação sublingual e ela foi melhorando. Pedi uma ambulância para transferí-la para uma emergência cardiológica porque o quadro ainda era grave. Ânimos acalmados, consegui explicar para os parentes por que não adiantava eu ficar do lado da paciente só olhando. Tanto precisava de gente pra preparar tanta medicação, que vieram mais duas auxiliares e éramos dois médicos. O rapaz pediu desculpas, eu aceitei e fui-me embora debaixo de chuva mesmo, antes que a velhinha batesse as botas e ele mudasse de idéia.
Plantão da quarta-feira
Um volume considerável de pacientes durante a manhã. Cheguei a pensar que estivesse sem médico na outra emergência de novo. A maioria coisas simples, mas um casal chamou atenção. Ele caiu com um muro sobre a esposa. Embora ele estivesse todo arranhado e cortado, me preocupei com ela, que estava com a cabeça macia demais. Depois de fazer uma sutura e curativos na mão dele, solicitei uma ambulância e uma avaliação neurológica para ela. Diversos retornos de pessoas trazendo exames. A mocinha com dor abdominal não tinha gastrite, mas esofagite. Já estava melhor depois da dieta sem irritantes gástricos. Habituais confirmações de anemia, parasitoses. Pra variar, todo mundo continua bebendo pouca água (peraí que eu vou beber um pouquinho). Um rapaz veio drenar um abscesso.
Vieram as fraturas de fêmur. Uma velhinha caiu em casa e fraturou a coluna e o cotovelo. Estava engessada do pescoço até à cintura, imagino o calor daquele colete. Uma moça foi atropelada e quebrou a perna.
À tarde, aquele senhor do abscesso no calcanhar veio fazer um curativo. Ainda havia um pouco de pus, mas ele já conseguia pôr o pé no chão. O rapaz do abscesso da mão voltou tão bem que quase não o reconheci. Perto das sete da noite, a irmã da auxiliar veio com queixa de dor de garganta e havia placas de pus nas amígdalas: amigdalite bacteriana. Prescrição de antibiótico para prevenir febre reumática.
À noite, internei os pacientes das cirurgias do dia seguinte.A paciente psiquiátrica que quebrou o braço continuava aos gritos na enfermaria e a senhora internada com feridas nas pernas não estava muito melhor. O parecer do cirurgião vascular recomendava prolongar o tempo de internamento e curativos com permanganato de potássio, mas havia tanta necrose no local que me perguntei como a medicação chegaria ao tecido vivo.
Antes de meia-noite, internei uma senhora com a pressão 220 x 100 mmHg, há três dias sendo socorrida sem melhora.

sexta-feira, abril 08, 2005

Plantão de segunda-feira

Logo ao chegar, fui informada que meu colega havia avisado que tinha um assunto urgente para resolver e só ia chegar às quatro da tarde. Isso significava que eu estava sozinha até lá, porque o obstetra, que poderia dar uma força, também tinha uma porção de cirurgias e ambularório de pré-natal. Todas as consultas de ambulatório, internamentos e urgências estavam nas minhas mãos. Fui almoçar umas duas e meia da tarde. Houve as torções de tornozelo habituais, um acidente de moto, cujo saldo foi um dedo mindinho quebrado, um senhor com a pressão arterial altíssima que desapareceu durante a observação, e voltou mais tarde, se sentindo mal novamente (bem feito, quem mandou fugir?), os quadros de virose, um rapaz com dor na nuca que já fez dois exames para descartar meningite. O fluxo aparentemente interminável das pequenas dores, das eternas queixas indefinidas, dos acompanhantes que falam pelos pacientes.
Pontualmente às quatro meu colega me rendeu. A seguir fui chamada por uma paciente, que fazia questão de falar comigo. Era para entregar um presente: panos de bandeja e de prato, que ela mesma pinta. Há quem ache que é algo simples, mas não para mim. Guardo cada um desses presentes com muito carinho. Alguns eu nem uso com frequência pra não estragar. Tenho vários paninhos, toalhas, canetas, tapetes, dados por pacientes. E usá-los é um reconhecimento pelo carinho.
Só às três da manhã fui atender um garotinho com febre. Um plantão anormal.

domingo, abril 03, 2005

Plantão de sábado

Um dia de expectativa. Desde quinta-feira eu esperava o falecimento de Sua Santidade. Quem já acompanhou doentes de Parkinson sabia em que estado ele estava. Era dia de evoluir todos os pacientes internos, vinte e seis ao todo. Aquela paciente de 55 anos, internada com diarréia estava um pouco melhor. O rapaz com asma e pneumonia melhorou e queria alta. Mas não tinha nem 48 horas sem febre. Aquele senhor com cirrose e ascite havia melhorado um pouco da falta de ar. Solicitei uma paracentese (retirada de líquido abdominal) de alívio. A velhinha com feridas na perna teve pouca melhora, apenas diminuiu o edema, mas foi suficiente para a dor diminuir.
Internei a pedido de outro médico, uma senhora que acabara de ter um AVC (derrame) e estava com diarréia. Essa paciente era fã do Papa também, se emocionava só em falar dele.Internei uma senhora, ainda jovem, com fratura de tíbia. Havia subido no telhado sozinha. Por que uma pessoa de seus 60 anos haveria de subir no telhado sem ajuda é coisa que não cabe na minha cabeça.
Entre uma evolução e outra, apareceram algumas consultas na emergência. Na hora do almoço, o jornal mostrou a piora do estado do Papa. Fui pessoalmente avisar à paciente e disse-lhe que a avisaria quando acontecesse. Deixei um tranquilizante prescrito e avisei à enfermagem cuidado com as notícias. Não queria um segundo derrame.
Um homem chegou mancando. Havia machucado o pé há duas semanas numa pedra. Tomou antibióticos e antiinflamatórios, sem melhora. Na outra emergência da cidade, apesar dele dizer que havia saída de pus, fizeram apenas um curativo. Removi o curativo e tirei a pele do local, havia pouco pus. Provavelmente o resto já havia drenado. Um sangramento começou e coloquei um gaze para comprimir. Estava fofo no local e muito dolorido. Estranho. Resolvi não arriscar e fiz uma incisão. O pus jorrou. Estava sob o músculo, havia uma área grande necrosada. Retirei o que pude, prescrevi uma antitetânica e recomendei retorno no dia seguinte. O osso do calcanhar estava muito perto e havia risco de osteomielite. pelo menos a dor passou.
Quase ao mesmo tempo, chegaram três pacientes. A primeira era uma volta. Tinha sintomas de infecção urinária, mas os exames só mostraram anemia. Como é uma adolescente de 12 anos, mesmo sendo uma anemia leve, é melhor tratar. Quando ela saiu, vi uma senhora embrulhada numa manta e tremendo. Era febre. Era diabética e estava doente há uma semana. "Tem vômitos?". "Não", e vomitou a seguir. Prescrevi medicação endovenosa devido à desidratação. O terceiro paciente tinha uma abscesso na mão. Parece que essa era a semana dos abscessos.
"Ajude aqui", ouvi a auxiliar gritar. "A paciente desmaiou", pensei. Fora o acompanhante. Coincidência, era a mesma auxiliar do último plantão. Juntos, eu, ela e o porteiro o levamos para outra maca. ela estava com dificuldade de encontrar uma veia na paciente. Em diabéticos e pacientes desidratados é realmente difícil. Acabamos conseguindo uma no pé.
O rapaz do abscesso continuava esperando. A primeira incisão foi superficial. A mão é cheia de tendões, músculos e ossos, e o perigo de lesioná-los é grande. A quantidade de secreção era pouca em relação ao edema. Mesmo a exploração da incisão com pinça não mostrou mais nada, nem pressionando. Então a auxiliar apertou o dorso da mão e encontramos onde estava o pus. O rapaz chorava sem parar. Foram uns trinta minutos mexendo na mão, mas ele deixou que fizéssemos tudo, apesar das lágrimas.
Depois, verificamos a glicemia daquela senhora. O filho dela já havia se recuperado. A glicose estava 281. Como ela usava insulina, não quis arriscar e internei-a. No meio da drenagem, a recepcionistra veio me avisar que o Papa havia falecido e aumentou o som da TV. Ouvi a voz de Bonner, embora não distinguisse as palavras. Só uma hora depois pude parar e saber dos detalhes.
Meu balanço final é que as mulheres desse plantão fazem os homem chorarem e caírem a seus pés. Ou não é?
Você bateria na sua cachorra?

Se ela:
1) Puxasse a toalha da mesa e derrubasse o vaso que está em cima.
2) Virasse o cacto e derrubasse a terra sobre o seu baú de revistas do Batman.
3) Arrancasse as folhas de seu lírio e espalhasse a terra do vaso pela sala.
4) Derrubasse o telefone e mastigasse o fio.
5) Derrubasse sua coleção fitas cassete.

E se ela fizesse tudo isso numa semana?

sábado, abril 02, 2005

Do Miss Fahrenheit

Poema engraçadinho

“Filhos, filhos?
Melhor não tê-los
Mas se não os temos
Como sabê-lo?”

Resposta: tenha um cachorro.
Plantão da quinta-feira
O dia começou com uma moça de 16 anos com paralisia cerebral. Estava vomitando sem parar há doze horas, já havia sido socorrida mais cedo em outra emergência mas piorara de novo. Pacientes acamados como ela têm grande dificuldade de manter as vias aéreas livres de secreção. De fato, há dois meses ela fora internada com uma pneumonia e parecia que estava com outra. Em pacientes debilitados assim, não existe um quadro clínico característico. Pode não haver tosse nem febre. É comum em idosos a pneumonia se manifestar apenas por falta de apetite e queda do estado geral. Crianças podem ter apenas a frequência respiratória aumentada. Essa paciente tinha febre e a infeliz coincidência de ser alérgica a dipirona. Não havia outro antitérmico na emergência, tivemos que usar o paracetamol que a mãe dela trouxera, e só depois de controlar os vômitos.
Um paciente com cirrose voltou, com a barriga cheia de líquido, as pernas inchadas. Foi internado.
Uma senhora com náuseas e dor abdominal há quatro dias. Fez e comeu todas as comidas com côco na Semana Santa, um costume do estado de Pernambuco. Havia tirado a vesícula biliar há uns anos e sabia que não podia comer coisas gordurosas. “É só uma vez por ano, doutora”. “Então uma vez por ano você vem aqui do mesmo jeito”, retruquei. Ela era amiga daquele senhor que chegou morto há quinze dias, cuja esposa era louca por ele. A necropsia confirmou que foi um infarto fulminante.
O barbeiro que foi atendido no último sábado com a boca torta voltou pra me agradecer. O neurologista confirmou que era um AVCI (acidente vascular cerebral isquêmico). Foi internado por dois dias, mas não se descobriu a causa, porque ele não tem hipertensão. Os movimentos da face estão voltando ao normal.
Uma mocinha veio fazer a drenagem de “um furúnculo”. Era um abscesso na nádega. Depois de explicar que anestesia não age em locais inflamados, fiz a incisão. Um pus malcheiroso e abundante saiu, e parecia que não ia parar mais. Era um super abscesso. Afinal, consegui tirar tudo, fiz um curativo e recomendei que voltasse no dia seguinte para reavaliação. Ela já estava tomando antibiótico e antiinflamatório.
Quando entrei na sala de medicações, havia uma paciente sangrando. Havia feito uma cirurgia ortopédica no tornozelo e um caroço se formou. O ortopedista supôs, muito sensatamente, que fosse um abscesso e puncionou o local com uma agulha para confirmar. Era uma formação vascular sobre o local da cirurgia. O chão estava cheio de sangue, a paciente apavorada e a auxiliar de enfermagem sozinha. Havia poucos pacotes de gaze no posto da emergência porque eu havia utilizado quase tudo na drenagem. Pedi que a auxiliar fosse buscar mais. O ortopedista veio para ajudar.
Nesse momento, o rapaz com asma do dia anterior entrou quase roxo, de tão cansado. Estava queimando de febre. Tinha pneumonia também, que não deu pra identificar devido ao chiado da asma. Por isso que ele não melhorava. Ele precisava de oxigênio e alguma medicação que o ajudasse a respirar. A auxiliar ainda não tinha voltado. Coloquei-o para nebulizar e comecei a preparar uma medicação endovenosa eu mesma. Nesse momento, ouvi um barulho às minhas costas. Era o acompanhante da paciente que havia desmaiado sobre a mesma e derrubado-a da cadeira de rodas. Era uma cena dantesca. A senhora aos gritos no chão, com a cadeira e o rapaz caídos sobre ela, o médico de luvas, ainda segurando o tornozelo para estancar o sangramento, a auxiliar que havia acabo de voltar, com as mãos cheias de materiais de curativo, e o rapaz com pneumonia ajoelhado no chão porque não conseguia respirar sentado. A mulher gritava “Quebrei o pé de novo”, e a sala cheirava a sangue e ao pus que ainda não havia sido limpo. E a sala cheia de pacientes tomando soro, em observação para baixar a pressão(!), aguardando para fazer curativos. E o telefone tocando pra avisar que havia um ambulância com pacientes para internar, que precisava ser liberada.
Minha prioridade era o rapaz. Já havia um médico com a paciente e se ela havia mesmo quebrado o pé, não ia morrer ali mesmo. Terminei de preparar a medicação e puncionei uma veia. Outro auxiliar veio dar uma força, a servente apareceu, o sangramento parou com a sutura do local. Ainda bem que o médico havia feito uma punção, eu nunca tinha visto um procedimento tão simples complicar tanto. Agora eu precisava cuidar da pressão alta da paciente, que não havia quebrado o pé, mas estava histérica, com razão. Fiz a medicação necessária, internei o rapaz e os dois pacientes com fraturas que haviam chegado durante a confusão. Aproveitei e internei a mocinha com pneumonia, que havia parado de vomitar.
O rapaz da dor de garganta voltou e agora havia pus na garganta e o hemograma confirmou infecção bacteriana. Os médicos erram também. Prescrevi um antibiótico.
Outra situação digna da TV aconteceu mais tarde. Numa consulta na sala de atendimento particular e de planos de saúde, uma paciente apresentava simtomas de uma infecção urinária. Eu havia acabado de explicar o que era e como tratar, quando o celular tocou. Era Ado. ‘Rápido, estou atendendo”. A recepcionista entrou sala adentro: “Doutora, uma emergência”. Murmurei um “desculpe” para a paciente e comecei a correr pelo hospital, ainda conversando no celular, ‘tenho uma emergência”, deu pra dizer e desligar. A urgência era uma senhora, que havia voltado para a revisão de um cirurgia e havia desmaiado na sala de espera. Estava com uma hipoglicemia. Lembrei dela porque tem catarata, não enxerga além de vultos, mas não dá pra perceber de jeito nenhum. Fui eu quem a internei. Enquanto eu a socorria, telefonaram pra liberar outra ambulância, com, uma velhinha com fratura de fêmur.
Retornei para terminar a consulta, solicitei exames e liberei a paciente. A senhora havia melhorado, procurei a velhinha com fratura para interná-la, mas como ela não tinha família e o hospital não permite que uma pessoa daquela idade fique sem acompanhante, ela foi embora. Fiz prescrições das medicações que faltavam, ainda daquela hora na confusão e voltei pro quarto. Assim que sentei o telefone tocou.
Era uma moça com dor de estômago, daquelas bem rebeldes, que quando a gente lista os alimentos proibidos (refrigerante, café, chocolate, frituras) pergunta pra gente “E O QUE EU VOU COMER?”. Quem come errado tem dificuldade de entender que os alimentos comestíveis são um conjunto e os alimentos restritos, um subconjunto. Se você tira o subconjunto, o resto é permitido. Nesse instante, o telefone tocou. Era uma médica avisando que estava enviando mais uma senhora com fratura de fêmur. Atitude rara e educada.
A moça do abscesso no abdome voltou para retirar o dreno. É impressionante como a dor praticamente não existia após vinte e quatro horas da drenagem. Agora ela precisa tratar a escabiose.
Virei médica da equipe. Todos os funcionários do plantão vêm dar uma palavrinha comigo, mostrar um exame. Dada a quantidade de médicos no hospital, imagino que não seja pela minha capacidade profissional, mas porque gosto de escutar as pessoas. Já percebeu que a maioria dos médicos nem olha pra cara do paciente?
Plantão da quarta-feira

Finalmente dei alta para aquela senhora com pé diabético. Recomendei cuidados diários com pés, uso de sapatos macios e fechados e uma solução para rachaduras.
Internei uma senhora com as pernas inchadas há três meses, cheias de feridas, em uso frequente de penicilina injetável. Era uma celulite profunda (um tipo de erisipela mais complicada). Solicitei um exame para diabetes.
Uma outra senhora, com 55 anos, com diarréia, vômitos e febre. Estava muito desidratada, veio trazida por vizinhos. Foi colocada numa hidratação venosa.
Um paciente particular voltou com os exames que eu havia solicitado. Há quinze anos ele teve problemas gástricos e desde então não fazia tratamento. Estava tomando medicações por conta próporia pro estômago e antibióticos pra infecção urinária. Precisei de um tempão para convencê-lo a fazer os exames. A endoscopia revelou Esôfago de Barret, uma alteração na mucosa do esôfago exposta há muitos anos ao refluxo do ácido gástrico, cujo próximo passo, se não tratado, é um câncer de esôfago. O tratamento exige um especialista, é prolongado e muito caro. Enviei-o ao um professor meu, com urgência, depois de explicar que não era câncer, mas precisava de acompanhamento urgente.
Um rapaz com asma, em uso de corticóides. Expliquei que se não usasse a bombinha de broncodilatador, não adiantava. A asma costuma melhorar apenas com broncodilatador, mas nas crises mais sérias ou prolongadas, é preciso corticóides por algum período. Na asma grave, o uso de corticóides é contínuo e associado a broncodilatadores e outras medicações. Depois da aplicação simultânea de broncodilatador e corticóide, ele melhorou. Associei um antialérgico e o liberei.
Uma moça com escabiose (sarna) se coçou tanto, com as unhas sujas, que formou um abscesso no abdome. Foi uma luta para drená-lo. Quando o pus se forma, não adianta apenas tomar antibióticos, é preciso tirá-lo. Por uma questão química, anestesias não funcionam em locais inflamados devido ao pH. A injeção é um sofrimento adicional. E a paciente não ajudou em nada gritando antes mesmo que eu começasse o procedimento e mesmo quando eu parei. Coloquei um dreno para evitar que juntasse mais pus e pedi que voltasse no dia seguinte.
Um rapaz com dor de garganta, dor de cabeça e dores pelo corpo também parecia mais uma vítima da virose. Como ele não estva muito bem, pedi um hemograma, embora a garganta estivesse apenas inflamada.
Chegou uma velhinha com fratura de colo de fêmur há 15 dias. Ela caiu e conseguiu cvontinuar andando mais uns dias, até que não aguentou e foi levada pro hospital. Preparei o internamento.
Começou o jogo do Brasil x Uruguai. Embora a seleção estivesse jogando bem, preferi tirar um cochilo. A experiência mostra que só aparecem grandes urgências durante esses jogos. Todo mundo que tem algum incômodo espera o jogo terminar. Dito e feito. Foi só o juiz apitar que reiniciou tudo.
Um mulher com dor de cabeça e vômitos, além de dores pelo corpo e rigidez de nuca. Já tivera meningite duas vezes antes. Não quis arriscar e mandei-a para um exame de líquido céfalo-raquidiano, após controlar a pressão. Felizmente era apenas essa virose maluca que anda derrubando uma porção de gente.
O rapaz da asma retornou. Estava usando APENAS o antialérgico. Expliquei novamente que apenas a combinação das medicações o faria melhorar, que poderia interná-lo até uma melhora maior, mas ele não quis. Disse que voltava se piorasse.
Uma moça chegou à uma da manhã com dores pelo corpo, aos gritos. Ninguém sabe o que ela tem, está em investigação, aguardando uma tomografia. Um analgésico potente resolveu, graças a Deus.
Às seis, chegou uma moça com dores no peito e braço esquerdo. Ela é hipertensa, mas a dor aumentava à palpação do esterno e musculatura. Era uma DORT, doença ostéo-articular relacionada ao trabalho, antigamente conhecida como LER (lesão por esforço repetido). Ela é caixa em um supermercado e precisa se afastar para tratamento. Fiz um antiinflamatório e encaminhei-a urgente ao ortopedista.
Plantão de segunda-feira

Não lembro de muita coisa. Esqueci de anotar os casos. Lembro do internamento de seu ***, portador de doença de Parkinson, com dor abdominal crônica. Poderia ser uma infecção urinária, mas sei que ele nunca espera completarem a investigação e pede pra ter alta. Interessante é que ele vive no hospital, enchendo a paciência de todo mundo, cheio de queixas. Sente dores por todo o corpo.
Meu colega estava no plantão do domingo e ficou muito aborrecido por perder uma paciente com um infarto fulminante. Ela teve dor no peito por três dias e só então foi ao hospital. Conversou normalmente com o médico e foi para o repouso, enquanto preparavam um eletrocardiograma e morreu. Simples assim. A filha dessa senhora foi atendida por mim à noite, arrasada. Com toda razão.
Também atendi um rapaz de 14 anos com dor no cotovelo após uma queda. O raio-x mostrava uma linha separando o corpo do rádio e o olécrano, aquela ponta do cotovelo. Como o olécrano é formado em separado, é comum confundir essa separação com uma fratura. Eu sabia disso, mas errei assim mesmo, pois imaginava que naquela idade já estivesse tudo soldado. Quem me corrigiu foi o técnico do raio-x. e eu aceitei numa boa. O corpo humano tem ossos demais, e vários só se formam com o crecimento. São poucos os médicos, exceto os especialistas, que sabem algo tão específico. O técnico vê isso todo dia, eu não. E tenho humildade suficiente pra reconhecer isso.
Inesquecível também, a mãe com filho gravemente desidratado e desnutrido, que assinou um termo de responsabilidade, porque não queria que ele fosse puncionado. Talvez fosse melhor esquecer...
Saco!

As medicações prescritas por minha médica para uso contínuo perfazem quase 400 reais por mês. Preciso de MAIS um plantão.

Só preciso deixar de postar dois dias e a tarefa se torna hercúlea, devido à quantidade de casos clínicos que passam por mim todos os dias.

Ando pensando seriamente em trocar o nome do blog para “Plantão Médico”.

Ontem, na propaganda política, estavam mostrando situações absurdas de diversos serviços de saúde pelo Brasil. Como assim “absurdas”? Aquilo é o meu dia-a-dia. Aqueles casos não são isolados. Da mesma maneira que no Rio de Janeiro, a prefeitura de Camaragibe, que também tem gestão plena, não estava repassando os recursos do SUS para o hospital geral de Camaragibe, que é particular e conveniado ao SUS. Na maioria dos hospitais que trabalhei em minha vida, o médico tanto atende urgências quanto consultas. Em Cortês (não se engane, a população não era nada cortês), havia um número fixo de fichas para consultas, mas se as fichas de consulta acabavam, as pessoas eram atendidas como urgências. Em Capoeiras, o médico que vinha de Recife chegava por perto do meio-dia, devido à distância, e ia embora às três da manhã pra pegar o ônibus de volta. Havia trinta fichas de ambulatório para cada turno, mais as urgências, mais os pacientes internados. Era o único médico da cidade e os municípios vizinhos não tinham médico porque as prefeituras não pagavam direito. Em Surubim, foi inaugurada uma policlínica pela prefeitura há dois meses, e a demanda pro maior hospital da cidade continua a mesma, porque os propagados médicos especialistas não foram contratados.
Sem falar que a população vai se consultar nesses hospitais porque o médico do Programa de Saúde da Família não está no posto todos os dias. E não é porque está fazendo visitas domiciliares. É porque tem dias de folga, embora o Ministério da Saúde determine que a carga horária é de 40 horas semanais. Se ao menos esse médico desse plantão na cidade nos dias de folga no posto, eu entendia. Em Mossoró-RN, a prefeitura provou para o Ministério que não havia médicos suficientes para os postos e as emergências, organizou folgas de meio expediente nos postos e todos os médicos da rede davam plantão nas emergências. A pessoa sabia que se o doutor não estava no posto estava na emergência. Mas geralmente, há pelo menos um dia de folga nos PSFs nos municípios mais distantes para que o médico dê um plantão e tire um dinheiro extra. A própria prefeitura oferece um emprego atrelado ao outro. Como o PSF não paga o suficiente para dedicação exclusiva, muitas vezes o médico não quer permanecer a semana inteira no interior, sem conforto algum,longe da família, sem ter o que fazer à noite. Em São Rafael-RN, não pegava nem celular. Se você perdesse o ônibus da manhã, só pagando uns trinta reais pra ir de moto para Assu. Não tinha acesso à Internet, telefone, só orelhão. E eu dormi um mês num colchão, porque a prefeitura prometeu, prometeu e eu saí de lá sem ver a tal cama e com dor nas costas.

sexta-feira, abril 01, 2005

Como pode?
Uma música que conheci há uns dez anos é perfeita pra minha relação com Ado.

O mundo anda tão complicado

Renato Russo

Gosto de ver vc dormindo
Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa

Te empresto um par de meias
E a gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é sua vez

Vem cá, meu bem
Que é bom viver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer
Tudo por você

Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo

Quero ouvir uma cançao de amor
Que fale da minha situação
De quem largou a segurança do seu mundo
Por amor
Por amor.
(Troque-se, é claro, a feijoada por pão-de-queijo)



A noticia de que o Papa está se alimentando através de um sonda me fez pensar numa cruel coincidência: Teri Sciavo morreu pela falta de uma mesmíssima sonda para alimentação.