Plantão de segunda-feira
Atender gente doente estando doente também não é nenhuma maravilha, pode apostar. Meu primeiro paciente era um senhor cor-de-rosa, com uma falta de ar súbita. A pressão arterial estava 230 x 140, além de ser diabético. Tivera um derrame há uns anos e não estava falando. Suspeitei de uma insuficiência cárdio-respiratória e iniciei suporte ventilatório além de controle da pressão. Depois avisaram que algum tempo antes uma senhora asmática tivera uma parada cárdiorespiratória e fora reanimada com sucesso. Fui lá vê-la. Estava muito bem, obrigada. Não lembrava de ter desmaiado, ter sido intubada, nada, nada. Ainda estava muito cansada, apesar de continuar recebendo medicação no soro e oxigênio e resolvi interná-la. Mais alguns pacientes, a maioria com a virose do momento, outra asmática, também foi internada. A filha do senhor cor-de-rosa veio me chamar. Ele não estava urinando, só então me disse que ele já fora socorrido mais cedo com uma retenção urinária. O paciente mesmo era tão envergonhado que só contara à filha, não falou comigo. Resolvi interná-lo e mandei passar uma sonda vesical de demora por causa da história de um “problema de próstata”. Ficar passando sonda de alívio num paciente com uma causa crônica de retenção urinária, além de dar um alívio temporário, aumenta as chances de infecção. A cada vez que se passa a sonda pelo canal uretral a chance de introduzir bactérias aumenta, então é melhor deixar uma sonda fixa por lá até ser possível resolver o problema.
Mais gente, com diarréia, com febre, com pneumonia. Uma senhora com labirintite caiu e cortou a testa. A segunda queda em três semanas. “Mas eu não tomo café há dois anos!”. E adora chocolate. Por que será que ela caiu? Espero que tenha escutado e siga as orientações, senão a próxima entrada poderá ser por fratura de fêmur, né?
Depois teve uma cesariana, uma menininha linda, imensa, quase que não saía. Pensaram até em aumentar o tamanho da incisão.
Finalmente minha colega! Doente. Uma maldade imensa deixá-la sozinha na emergência, mas eu tinha o berçário e a enfermaria de Pediatria, fazer o quê? Pouca gente no berçário (pode-se chamar alguém com 18 horas de vida de gente?) e fui pra pediatria.
Mal tinha começado o telefone toca. Não conseguiam passar a sonda no paciente. Já vou, já vou. Encontro o enfermeiro-chefe, profissional competentíssimo às voltas com uma situação rara: a sonda não passava pela uretra do paciente porque a obstrução não se devia nada mais que a um cálculo, que estava passando naquele momento pela uretra! E fiquei assistindo àquela situação dolorosíssima, um verdadeiro parto. (Depois, a história dessa pedra andou por todo o hospital, claro) O paciente voltou a falar depois disso (por que será?). Detalhe que tudo se passou sem um grito da parte dele!!!!!!
O terceiro colega chegou (se recuperando da gripe) às sete da noite. Graças a Deus, porque daí a pouco a colega não aguentou de tanta dor e vômitos e foi pro soro. Eu já havia desabado também, com uma dor de cabeça que me acompanhou por toda a noite.
quinta-feira, maio 19, 2005
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