terça-feira, julho 26, 2005

Memória

A memória é um desses mistérios da fisiologia humana que a ciência ainda não conseguiu explicar. Tanta coisa importante que eu precisava saber, e já li, li e não aprendi, e tanta informação inútil que se enfiou cabeça adentro e não consigo tirar. Só Deus sabe por que não gravo os critérios maiores e menores da febre reumática, mas não esqueço da primeira vez que provei sorvete de nata-goiaba, por que sempre me atrapalho pra dizer meu CPF, mas sei a ordem dos pecados capitais em Seven, por que sempre tenho que anotar a data da última menstruação, mas lembro que o Tom Cruise foi casado com a Mimi rogers (e não com a Minnie Driver).
A gente devia poder fazer faxina da mente de vez em quando, organizar a informação por pastas igual a um HD, deletar antigos namorados, salvar com cópia aquele truque pra tirar mancha de batom da camisa branca de seda, ter um arquivo-morto, poder atualizar os dados.
Cada dia que vivo e envelheço, esqueço mais. E são sempre os fatos novos, os mais importantes. Lembro do meu primeiro sorvete de pistache, da primeira dose de uísque e de um remédio de gosto horrível que tomei há mais de 20 anos.
Não lembro da dose máxima de AAS indicada pra crianças, sempre tenho que conferir. Talvez eu precise ser reciclada, talvez meu modelo tenha passado da validade. Talvez a memória só sirva pra isso mesmo, relembrar o que se viveu, e o que ninguém mais lembraria porque não está nos livros. Porque é importante demais só pra nós mesmos.

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